A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) produziu um estudo especial sobre o comportamento do endividamento dos brasileiros durante o ano de 2020, marcado pela crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. A análise, que tem como base os resultados mensais da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), mostra que a média de famílias endividadas no ano passado cresceu 2,8 pontos percentuais, em comparação com 2019, chegando a 66,5% – a maior porcentagem anual da série, iniciada em 2010.
Apesar de ter alcançado a máxima histórica, a variação do indicador em 2020 foi menor do que a registrada em 2019 (+3,3 pontos percentuais). O presidente da CNC, José Roberto Tadros, destaca que os impactos negativos do surto de covid-19 ao longo do ano impuseram a adoção de medidas de recomposição da renda, como o benefício emergencial, e de estímulo ao crédito, como forma de manter algum nível de consumo pelos brasileiros. “Em conjunto com a redução dos juros ao menor patamar da história e com a inflação ao consumidor controlada em níveis baixos, estas ações forneceram às famílias condições de ampliar a contratação de dívidas e renegociar as já existentes”, afirma Tadros. O percentual de famílias com dívidas apresentou tendência de alta, ao longo de 2020, até agosto – quando alcançou o nível recorde de 67,5% – e, desde então, adotou trajetória de queda, fechando dezembro em 66,3%.
Inadimplência tem trajetória semelhante
Com mais consumidores endividados, a inadimplência também aumentou em 2020. A proporção de famílias com contas ou dívidas em atraso cresceu 1,5 ponto percentual, alcançando 25,5% – na média do ano. Izis Ferreira, economista da CNC responsável pelo trabalho, lembra que o indicador chegou a iniciar 2020 em patamar inferior ao registrado no fim de 2019: “Houve sucessivas altas ao longo do ano, com o percentual atingindo o maior nível da história em agosto, com 26,7%. Porém, esta porcentagem passou a cair durante o segundo semestre, influenciada pelo conjunto de medidas de combate à pandemia que ajudaram os consumidores com relação à capacidade de pagamento de parte das contas e dívidas”.
Neste período, acelerou também o percentual das famílias que declararam não ter condições de quitar os débitos no mês seguinte e que, portanto, permaneceriam inadimplentes. A proporção cresceu 1,4 ponto percentual em comparação com 2019, subindo a 11% – na média anual. “O incremento no endividamento se deu de forma mais intensa entre as famílias com até 10 salários mensais de renda, assim como a piora nos indicadores de inadimplência foi mais expressiva para este grupo”, ressalta Izis.
Em relação à capacidade de pagamento, houve avanço de 0,5 ponto percentual no item que diz respeito ao comprometimento de renda com dívidas – média anual de 30% em 2020. “O aumento da parcela média da renda comprometida com dívidas não ocorreu, no entanto, na mesma dimensão que o percentual de famílias com dívidas, o que evidencia o menor custo do crédito”, destaca a economista da Confederação, acrescentando que aumentou também o tempo médio de comprometimento (+0,3 mês, totalizando 7,2 meses), o que reflete a maior participação de modalidades com prazos mais longos de pagamento, como crédito consignado, carnês, além dos financiamentos de carro e casa.
Assim como nos anos anteriores, o cartão de crédito foi apontado como o principal tipo de dívida entre os brasileiros em 2020 – 78%, na média anual. Em segundo e terceiro lugares, ficaram, respectivamente, o carnê (16,8%) e o financiamento de carro (10,7%). “Outro destaque foi o financiamento de casa, que ultrapassou o crédito pessoal entre os principais tipos de dívida das famílias”, indica Izis.