Bancos de alimentos: iniciativa global no combate à fome

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Eventos como a seca que atingiu a Amazônia e os ciclones e enchentes que causaram destruição no Sul do país são alguns exemplos

por José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, e Lisa Moon, presidente e diretora-executiva da Global FoodBanking Network [GFN)

Os efeitos da crise climática têm sido cada vez mais evidentes. Eventos como a seca que atingiu a Amazônia e os ciclones e enchentes que causaram destruição no Sul do país são alguns exemplos. Episódios cada vez mais frequentes, que impactam diretamente no acesso da população à alimentação, afetando a produção agrícola, a infraestrutura de transporte, o armazenamento e distribuição de alimentos e a queda da renda devido ao aumento do desemprego. O trabalho realizado pelos bancos de alimentos tem conseguido resultados significativos, tanto no combate à fome como na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. E o Brasil pode ser um líder global nessa questão.

Em todo o mundo, vemos repetidamente o mesmo paradoxo cruel: 785 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer, enquanto um terço de todos os alimentos produzidos são perdidos. Um cenário particularmente grave no Brasil, onde 42% dos alimentos são desperdiçados e mais de 61 milhões de brasileiros sofrem de insegurança alimentar. O desperdício de alimentos também é prejudicial ao meio ambiente, sendo um fator responsável por cerca de 8% a 10% das emissões de gases com efeito de estufa. Recuperar produtos que acabariam em aterros e distribuí-los às pessoas em situação de vulnerabilidade é uma estratégia que impacta em ambos problemas.

Há 30 anos, o Sesc Mesa Brasil atua no combate à fome e ao desperdício de alimentos, sendo hoje a maior rede de bancos de alimentos da América Latina. Essa expertise serviu como apoio à pesquisa desenvolvida pela Harvard Law School Food Law and Policy Clínico (FLPC) e pela Global FoodBanking Network (GEN), que teve como objetivo identificar políticas que possam auxiliar na questão da fome, da redução do desperdício e no enfrentamento às mudanças climáticas no país. As análises e recomendações da pesquisa estão disponíveis no Atlas Global de Políticas de Doação de Alimentos, um mapa interativo com leis e políticas que afetam a doação de alimentos em diversas partes do mundo. O documento já conta com dados de 24 países, entre eles Estados Unidos, Canadá, Argentina, Chile, China, Israel, Reino Unido e África do Sul.

O Atlas Global de Política de Doação de Alimentos traz recomendações que podem criar mecanismos de grande valor para bancos de alimentos, parceiros doadores e demais iniciativas voltadas à causa. Como a adoção de um sistema de rotulagem dupla com critérios distintos de qualidade e segurança, que permitiria a doação de alimentos após a data de qualidade apontada no rótulo; o aumento de subsídios fiscais para doações de alimentos ou a imposição de penalidades monetárias a empresas que enviem alimentos para aterros sanitários.

O trabalho dos bancos de alimentos já é reconhecido no país pelo governo federal, por meio da Rede Brasileira de Bancos de Alimentos, da qual o Sesc Mesa Brasil participa como um dos membros do comitê gestor. Nessas três décadas de atuação, o programa vem cumprindo seu compromisso de promoção da cidadania e melhoria da qualidade de vida de pessoas em situação de vulnerabilidade, em uma perspectiva de inclusão social. Somente em 2023, foram mais de 48 milhões de quilos em doações de alimentos e produtos de higiene e limpeza, que beneficiaram aproximadamente 2 milhões de pessoas mensalmente.

A parceria formada pelo Sesc, pela FLPC e pela GEN demonstra a importância do fomento às redes de solidariedade como forma de se enfrentar desafios mundiais, como a fome, as mudanças climáticas e a preservação do meio ambiente. E ter o Brasil presente nesse mapa representa um grande avanço para as instituições que trabalham em prol de milhares de pessoas, proporcionando não só alimentação adequada, como senso de cidadania. Esse é um dos principais compromissos de todo o Sistema Comércio: estar junto aos diversos segmentos, em um esforço contínuo para o desenvolvimento social e o bem-estar da população.

Artigo originalmente publicado no jornal Correio Braziliense, em 14 de março de 2024.

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