*Por Antonio Florencio de Queiroz Junior, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro
É óbvio que não foram dias fáceis. Mas olhando para trás, com certo discernimento que só o tempo permite, é possível concluir que estes dois anos de pandemia nos trouxeram inúmeras lições. E nos permitiram acelerar em diversas frentes e modernizar o comércio. É claro que ninguém queria isso, afinal, estamos falando de uma tragédia, mas não deixa de ser uma maneira otimista e, sim, perseverante, de poder olhar para trás e concluir que conseguimos não só passar pela pior fase da pandemia, mas, mais do que isso, sair mais fortes e mais preparados para atender nosso público.
É duro admitir, mas até fevereiro de 2020 estávamos todos nós em uma certa zona de conforto. Tínhamos, aqui no Brasil, inúmeros problemas, claro, mas parecíamos imunes às grandes tragédias globais, em especial o terrorismo.
Para o comerciante e prestadores de serviço, o impacto da pandemia não foi somente a estranheza de ter de ficar em home office ou uma mudança de rotinas e hábitos. Era o sustento de várias famílias se esvaindo a partir da força de algo invisível como o vírus. Uma pesquisa feita pelo Ifec (Instituto Fecomércio RJ) logo no primeiro mês da pandemia constatou o peso daquele momento: 68% dos empresários do Rio não conseguiriam manter seus negócios ativos caso tivessem de permanecer fechados por até 30 dias; 17,4% não aguentariam nem uma semana fechados. Era como um agricultor que, de uma hora para outra, perdesse toda uma safra por conta de uma praga desconhecida. Com a diferença que a praga não tinha previsão de acabar e, pior, ainda poderia matar você ou um familiar.
Houve momentos muito duros. Nos grupos de WhatsApp, não sabíamos se a próxima mensagem que apitaria era a de um colega para informar da morte de um conhecido ou para informar sobre mais um comércio à beira da falência. Com a pandemia não arrefecendo no prazo que muitos imaginavam de início, muitos negócios não conseguiram se manter ativos. Até a liberação plena do comércio como um todo, foram no total 95 dias com restrições, em um dilema complexo e muita luta, sem respostas prontas.
Mas tínhamos que seguir. E seguimos. Tomamos decisões difíceis, de amplo apoio aos empresários, ao mesmo tempo que defendemos e colocamos a vida em primeiro lugar, inclusive com forte apoio à vacinação em massa. Mas a pandemia deixou lições para todos e acelerou processos que vinham ocorrendo paulatinamente.
Na presidência de Juscelino Kubitschek, o Brasil seguiu o lema dos 50 anos em 5, para desenvolver obras essenciais para o progresso do país. Agora, é possível dizer que em alguma medida que o comércio, com o catalisador representado pela pandemia, experimentou um salto de 20 anos em 2 em razão da digitalização.
Uma outra pesquisa feita pelo IFec também no princípio da pandemia apontava que 75,5% dos comerciantes do Rio de Janeiro não faziam vendas online. Hoje o delivery e o “phygital”, quando lojas offline oferecem algum tipo de interação online são uma realidade. E dou um exemplo ilustrativo desta mudança: o uso do WhatsApp como um instrumento de venda é agora corriqueiro, assim ele era praticamente inócuo até 2020.
A pandemia nos separou de muita gente que amávamos. Mas, como nada na vida é monolítico, também é possível olhar para trás, dois anos depois do “início do fim” e ver que a pandemia também serviu, para o setor produtivo, para mostrar que há caminhos para além do que nós acreditávamos. O medo do futuro se transformou, em dois anos, em convicção da perseverança.
Uma indicação disso é que, em pesquisa de dezembro passado, o IFec constatou que mais de 90% dos empresários já acreditavam que, até este mês de março, a situação seria diferente – para melhor. Esse é o Rio de Janeiro que queremos e é o Rio de Janeiro que acreditamos.