Sustentabilidade é investimento e não custo, diz especialista

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20/08/2020

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) firmou parceria com o Sustentaí, uma startup que, por meio da tecnologia, busca democratizar o conhecimento sobre sustentabilidade nas empresas e, com isso, está realizando uma pesquisa para entender o que as pessoas pensam sobre sustentabilidade.

Atualmente, em parceria com a PUC-Rio, o Sustentaí está desenvolvendo a LAIS, uma inteligência artificial capaz de medir o engajamento das pessoas em relação à sustentabilidade. A LAIS está sendo calibrada para que possa ter maior autonomia na análise do engajamento. Essa calibragem aumenta à medida que mais e mais pessoas respondem a um questionário super-rápido e simples.

As respostas das pessoas vão ajudar a LAIS a ter uma capacidade melhor de análise, e a CNC terá um diagnóstico do engajamento do seu público interno, Federações e Sindicatos, em sustentabilidade. Esse diagnóstico vai nortear as ações do Ecos – Programa de Sustentabilidade da CNC para serem mais efetivas: http://programa-ecos.blogspot.com/

Confira a entrevista da sócia-fundadora do Sustentaí, Julianna Antunes, e idealizadora da LAIS. Ela explica como a sustentabilidade pode ser uma vantagem para as empresas do comércio de bens, serviços e turismo.

O que é sustentabilidade e como você acredita que as empresas do comércio de bens, serviços e turismo podem incorporar a temática em seus negócios?

JULIANNA ANTUNES: Tenho uma visão de sustentabilidade de uma forma bem processual. A empresa é sustentável porque seus processos são sustentáveis ​​e, diante dessa visão, qualquer tipo de empresa, seja indústria, agronegócio, infraestrutura, transporte, serviços, comércio, startup, pode e deve ser sustentável. Então, estou falando de processos sustentáveis no marketing, em finanças sustentáveis ​​e principalmente na operação.

Por exemplo, como evitar o desperdício de alimentos na operação de varejo de um supermercado, como reduzir o consumo de água e energia na operação logística dos fornecedores, no acondicionamento dos produtos. No campo do turismo, seria se perguntar como aplicar o turismo de forma que não se gerem grandes impactos naquela região de entorno do empreendimento. A atividade do turismo pode gerar valor ao se pensar em preservar a memória do local, da cidade, o patrimônio cultural; então, em tudo isso, podemos relacionar a perspectiva da sustentabilidade.

Na sua opinião, quais as vantagens dessas empresas ao incorporarem a sustentabilidade em seus negócios?

J.A: Ao contrário do que o mito prega, sustentabilidade não é custo, é investimento. E, por definição, investimento se paga ao longo do tempo. Em uma rede de supermercados, por exemplo, quando pensamos nas instalações, dá pra trabalhar a construção sustentável, conforto climático. Com isso, tem-se menos necessidade de gasto com ar-condicionado, menos custo energético. Se é feito o uso eficiente da água, gasta-se menos com a conta. Se há redução de desperdício, vai precisar comprar menos. Se gerencia o estoque de forma inteligente, vai ter menos perda. Isso acontece também no salão de beleza, no restaurante e no bar. Você vai precisar de um investimento inicial, mas ele retornará ao negócio. Tem muitas vantagens.

Além de tudo isso, a sustentabilidade permite que você faça uma gestão de riscos melhor, e aí o empresário tem como mostrar ao banco ou para algum investidor que a sua empresa é mais saudável e oferece menos risco à captação de recurso financeiro.

Como você considera que a pandemia do coronavírus está influenciando positivamente para que a discussão da temática ganhe força dentro das empresas?

J.A: A pandemia assustou muita gente e é uma tendência do ser humano pagar para ver. Já se fala dos riscos de sustentabilidade, dos impactos, há muito tempo, mas fomos jogando para frente, e aí veio a pandemia. Uma série de estudos faz relação da causa da pandemia com a questão ambiental. Isso ganhou destaque porque, segundo muitos estudos, a pandemia é resposta de um processo que não está dando certo, de um estilo de vida que não dá certo. Com isso, a sustentabilidade está chegando no centro da tomada de decisão.  

O mercado financeiro ficou muito assustado no início da pandemia, a bolsa de valores caiu mais de 30%. Então, quando o mercado financeiro sente o problema, ele passa a valorizar e, consequentemente, ele passa a cobrar. Tem vários estudos afirmando que, para a empresa captar recursos no mercado financeiro, ela vai ter que ser sustentável. Uma série de fundos de investimento já está cobrando das empresas questões de sustentabilidade porque senão não vão conseguir alavancagem financeira. Temos países fechando as portas para as empresas que não têm princípios sustentáveis. E eu espero que isso ​​ganhe ainda mais força e não saia mais de moda.

A mudança de processos e a otimização de recursos dentro das empresas, sejam pequenas, médias ou grandes, são uma das vantagens de se ter um olhar sustentável para os negócios, como essa mudança acontece dentro das empresas? Ela necessariamente requer um engajamento das altas e médias lideranças e das equipes em geral, então como tornar isso possível em diferentes níveis hierárquicos?

J.A: Sim, microempresa também entra, muito grande, startup e qualquer tipo de empresa. Olhar a operação, processos, incluir a sustentabilidade nos processos, focar a otimização de recursos é fundamental porque gera valor, economia e imagem positiva. Só tem benefícios.

Por exemplo, quando se trabalha a mudança do ponto de vista tecnológico, é aquela gestão de mudança dentro da empresa que vai ficar na cabeça do funcionário das 8h às 18h, ou seja, quando chegar em casa, ele vai esquecer. Em sustentabilidade, não tem como. Não dá para ser sustentável só em horário comercial porque ela é um valor.

Por teste, afirmo que o método top-down (de cima para baixo) de focar o engajamento do CEO, do executivo, da alta liderança, no primeiro momento, não dá certo. No Sustentaí, utilizamos o método middle-up down (do meio para cima e para baixo), porque o coração da sustentabilidade, independentemente do segmento da empresa, está na operação, seja uma operação de alto ou baixo impacto. Então, na minha visão, o foco é engajar primeiro as médias lideranças que estão na operação, onde de fato a sustentabilidade acontece, e que transitam com as altas lideranças, que são aquelas que dão as diretrizes, mas não executam. No Sustentaí, é a partir das médias lideranças que começamos o engajamento para entrar nas empresas com a sustentabilidade de forma mais efetiva.

O Sustentaí está criando uma inteligência artificial, chamada LAIS, para mensurar e impulsionar o engajamento da sustentabilidade nas empresas, como este projeto foi criado e em que fase se encontra?

J.A: Para falar dele, tenho que contar uma história antes. Eu tinha uma empresa de consultoria e fazia consultoria de temas muito sofisticados de sustentabilidade. Acontece que a minha maior dor era justamente o engajamento porque, com essa visão processual e visão estratégica de sustentabilidade, sempre trabalhei com sustentabilidade na empresa como um todo, não numa área isolada. Então, eu enfrentava muita dificuldade e barreiras por falta de engajamento das pessoas.

Em 2017, passei a trabalhar basicamente com engajamento, e nasceu o Sustentaí. Somos focados no engajamento para sustentabilidade, a nossa proposta de valor é a de democratizar o conhecimento da sustentabilidade nas empresas e para as pessoas em geral. Ficava martelando na minha cabeça que a tecnologia tinha de me auxiliar no engajamento. O problema é que não tem como você pensar em ações de massa dentro de uma empresa sendo que a motivação e o engajamento são questões individuais. O que leva uma pessoa a se engajar em sustentabilidade são motivações pessoais.

Então, surgiu o desafio: como usar a tecnologia para motivar pessoas num nível individual? Um dia, em um momento eureca, veio a ideia de criar uma inteligência artificial. Procurei pessoas que entendem do assunto para saber se era possível. Criamos um questionário aberto com cinco perguntas, conseguimos 128 voluntários, que retornaram com 640 respostas. Essas respostas foram classificadas, as palavras-chave foram tagueadas, e criamos seis personas de sustentabilidade. Dentro do que engenharia de produção faz, a gente fez o que se chama de customização de massa.

Não temos um perfil individualizado para cada pessoa, mas criamos seis perfis clássicos de comportamento de sustentabilidade. Temos o negacionista, que é aquela pessoa que acha que sustentabilidade é besteira. Tem a pessoa que faz porque tem de fazer, porque a empresa pede. Tem o que acha que é moda, e adere por isso. Tem o pragmático, que enxerga os benefícios, então faz porque tem algum retorno. Tem o que enxerga a geração de valor e que influencia outros em relação à sustentabilidade, e tem aquele que é agente de mudança, ou seja, ele trabalha relações e articula a sustentabilidade no seu entorno.

Como a LAIS vai poder ajudar as empresas a impulsionar o engajamento em sustentabilidade?

Ela vai ajudar ao mapear o perfil de cada público, com as personas, ou seja, ter essa análise vai permitir que as ações de engajamento sejam muito mais efetivas nas empresas, porque serão ações diferentes para cada público. Por exemplo, o público que estiver no nível básico não se interessa por receber input sofisticado de sustentabilidade, de quem está no nível mais alto. Do mesmo modo que, se entregarmos uma ação que pode parecer simples para uma pessoa que está no nível mais sofisticado de sustentabilidade, isso pode acabar desmotivando-a. A LAIS permite identificar e medir o engajamento em sustentabilidade, visando direcionar melhor as ações no ambiente corporativo.

Se você trabalha nas Federações e quer contribuir para a construção da inteligência artificial, clique no link e responda às cinco perguntas, vai levar até 5 minutos: https://bityli.com/Mmath

Se você trabalha em um Sindicato, acesse: https://bityli.com/sfmht

O público em geral pode participar também acessando: https://bit.ly/SustentaiLais

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