Senac participa de debate sobre a formação de profissionais em Turismo na Câmara

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A Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados debateu, nesta quinta-feira (19), o cenário e como oportunidades da formação profissional de turismólogos e técnicos em Turismo no Brasil. A partir de um requerimento do deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ), professores universitários, representantes do poder público, pesquisadores e entidades de classe dispensada diagnósticos, propostas e conjunturas que podem impulsionar ou afetar o desenvolvimento importante do setor, que tem participação na economia nacional.

Outro propósito do encontro foi traçar soluções para os problemas encontrados quanto à educação em Turismo, no âmbito dos ensinos técnicos e tecnológicos, graduação e pós-graduação. Na audiência, palestrantes e parlamentares lembraram que a formação ininterrupta em Turismo no País completa 50 anos, com o primeiro curso de Técnico em Guia de Turismo, inaugurado em 1971 pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE).

O primeiro mestrado profissional, no entanto, surgiu décadas depois, por iniciativa do Instituto Federal de Sergipe (IFS), em 2016. Antes havia outras modalidades de pós-graduação, porém acadêmicas. Atualmente, há formação em todos os níveis, em 22 unidades da Federação.

O Representante do Sistema de Comércio em audiência, Antonio Henrique Borges Paula, assessor de Relações Institucionais do Departamento Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), chamou a atenção para a formação educacional no Brasil como um gargalo para o desenvolvimento de outras etapas.Paula lembra que, entre os jovens a partir de 25 anos, 50% não concluíram o ensino básico. Entre os que concluíram, 80% não tiveram acesso à universidade. Nesse sentido, o representante do Senac reforça a importância do ensino profissionalizante.

“A educação profissional, como a constituição diz, traz dois direitos básicos ao ser humano: o direito à educação e o direito ao trabalho”, defende. Quanto à formação em Turismo, o avaliador explica que a principal preocupação do Senac é alinhar uma formação às constantes mudanças tecnológicas, que acontecem em todos os ramos, desde uma reserva de passagens, por exemplo, até transações em sistemas específicos de hotelaria, lazer e pagamentos.

Em resposta à exposição, o deputado federal Otávio Leite solicitou uma documentação sobre a disponibilidade de cursos oferecidos pelo Senac afetando setor de turismo.

Formação em Turismo no Brasil

Ainda sobre a formação no setor, o professor do Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT) Daniel Martins apresenta um cenário mais amplo sobre o Turismo e explicado que a composição da cadeia produtiva do setor é maior do que a maioria costuma pensar.

O eixo tecnológico de turismo, hospitalidade e lazer, segundo o professor, compreende os processos de recepção, viagens, eventos, gastronomia, serviços de bebida e alimentação, entretenimento e interação, gerando empregos diretos e indiretos e, em muitos lugares, sendo o motor do desenvolvimento social e econômico local.

Daniel Martins explicou que, para chegar ao objetivo de alçar o Turismo como meio de desenvolvimento, é necessário planejar perspectivas aprimoradas de ligação entre aprendizagem e mercado, além de um olhar mais atento  para a importância que o Turismo pode ter, englobando diversas temáticas sociais, salvaguardas, ambientais e tecnológicas.

“Precisamos de uma estratégia importante para o Turismo como vetor de desenvolvimento, o que requer ações muito específicas, como formação profissional, estruturas, incentivos e inserção no mundo do trabalho”, reforçou.

Sobre a formação, o professor do Departamento de Turismo da Universidade Federal do Paraná Carlos Eduardo Silveira apresentou o cenário e conjunturas do Turismo como graduação. Desde os anos 1970, o Brasil abriu 715 cursos de formação superior, sendo o Sudeste e o Sul como regiões que mais concentram os cursos de bacharelado, enquanto o Norte é a região que possui a menor quantidade.

Na avaliação de Silveira, uma rede pública de ensino acolheu a necessidade de uma formação mais sólida em Turismo, mas ainda precisa se adaptar com mais rapidez à agilidade de mudanças no mercado. Sobre o perfil profissional, a pesquisa apresentada pelo professor mostra que grande parte das pessoas que trabalham no mercado de turismo é do sexo feminino, tem entre 23 e 40 anos, a maioria fez de curso bacharelado, presencial, e cerca de 50% ganham entre R $ 918 e R $ 3,700.

O levantamento realizado que os maiores salários são acessados ​​por pessoas que têm formação superior. “Nos salários acima de R $ 18 mil, nenhum tem formação de tecnólogo, uma concentração de bacharéis ainda acessa salários maiores, a formação é bem demarcada, mas precisa ser bem divulgada”, demonstração o docente.

Especialistas defendem as mudanças

Quanto às diretrizes curriculares dos cursos, uma das mais respeitadas turismólogas, formada na primeira turma de graduação do País, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) Tânia Omena ensaiosu o cenário de criação do curso e explica que, em grande parte, o engessamento da série curricular se deve ao momento atravessado pelo País.

Na época, segundo Omena, os cursos eram criados com base na direção de currículo mínimo e pleno, com disciplinas absolutamente tecnicistas. Nesse sentido, um docente avaliando que há um abismo entre os movimentos do setor em todo o mundo e a formação brasileira. 

“Devemos pensar o que era o Turismo na época, o que era a Embratur na época, ea proposta era revolucionária sob a ótica do Brasil grande e da conquista visual macro do Brasil. Depois disso o Turismo evolui, passa a ser um braço da OMT, temos empresários evoluindo no mercado, crescimento de companhias aéreas e a nota curricular não muda ”, alerta a professora.

Nesse sentido, Carlos Alberto Lidizia Soares, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), propõe uma revisão das diretrizes curriculares, que considera desatualizadas. Segundo ele, é necessário abandonar a discussão tecnicista, discutir o papel de universidades e institutos federais na perspectiva do papel social de inclusão, inovação tecnológica e social.

Além disso, defende a difusão das características nacionais brasileiras, com um olhar incluído por meio de ações afirmativas e creditação das atividades extensionistas. “Como é que uma universidade vai devolver à sociedade senão por meio de atividades extensionistas?”. Estas são as atividades que envolvem alunos, professores ea população.

O docente ainda sugere a criação de câmaras técnicas para ampliar as discussões sobre os diversos aspectos do desenvolvimento do Turismo. Ele enumerou que a UFF tem 500 alunos de Turismo, 200 alunos em curso técnico de hotelaria, pós-graduação com 70 alunos e cerca de 20 alunos por semestre ingressos em mestrados na área.

“Nós precisamos criar mecanismos para garantir a formação plena desses discentes e dos professores, que também precisam ter acesso a fontes de pesquisa e formação continuada.” Lidizia Soares ainda destacou que muitos alunos enfrentam dificuldades para conseguir estágios e sugere ao Legislativo medidas conjuntas com empresas para facilitar a contratação dos alunos do curso de Turismo.

Pós-graduação no setor

O professor Alexandre Panosso, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e presidente da Associação de Pesquisa e Pós-graduação em Turismo, explica que toda a história da pós-graduação na área tem início em 1965, tanto especializações quanto acadêmicas, mestrado e doutorado, voltados para a formação em pesquisa.

Hoje, 12 instituições oferecem pós em mestrado e doutorado, que formaram cerca de 2 mil mestres em todo o País, segundo levantamento feito por Panosso. Algumas pesquisas ganharam destaque e prêmio reconhecido nacionalmente: as três primeiras tratam do turismo voltado para o público LGBTQI+, maquetes de turismo táteis para pessoas com deficiência visual e turimo em um território indígena.

Quanto ao financiamento das pesquisas desenvolvidas sobre o setor, as instituições mais citadas são o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Panosso alerta, no entanto, que há necessidade de aumento das verbas disponíveis, vistos os cortes aplicados nos últimos anos.

Ele ainda cita a necessidade de ampliar a quantidade e os temas estudados para o desenvolvimento do turismo doméstico, integração, além da conservação patrimonial. “Falta integração entre os estudos de turismo e o setor comercial, oportunidades de estágio, pesquisa aplicada, contratações, parcerias com empresas. A falta de gestão para a manutenção do patrimônio histórico e turístico brasileiro diante das interpretações do passado e soma-se a isso a falta de recursos.”

O futuro da formação em Turismo

Com um arcabouço exposto sobre formação e especialização de profissionais para atuarem no setor, a presidente da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais do Turismo (ABBTUR), Lenora Schneider, afirmou que a entidade busca desenvolver as atividades nacionais em alinhamento com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, incluindo em suas ações os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

Além disso, a entidade busca a criação de um Conselho Federal de Turismo para fiscalizar, acompanhar, orientar e fortalecer a atuação dos profissionais. Um levantamento feito pela associação mostra que existem 18 mil turismólogos em algum cadastro, porém o número real de pessoas com esta formação deve ser de cerca de 300 mil e o conhecimento dos profissionais atuantes reforça os objetivos da instituição.

“Nós queremos ser reconhecidos como uma organização para a transformação social, econômica e ambiental e apoiamos as instituições de ensino e os governos de uma maneira responsável, com muita ética”, afirma.

Na perspectiva de mudanças, a coordenadora-geral de Planejamento e Avaliação da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) do Ministério da Educação, Joelma Khemer, considera que a demanda por formação na área é atendida pelo poder público por meio dos institutos federais e escolas técnicas.

No entanto, avalia que é preciso avançar e, em mais um passo, o ministério, em conjunto com o Ministério do Turismo, vai lançar o programa Ressaber, que concede a certificação de saberes e competências para quem atua comprovadamente na área e possui o conhecimento básico necessário para exercer a profissão em diversas vertentes.

“Temos o diagnóstico de que muitos profissionais atuam nessa área, têm grande experiência, mas ainda não tem certificação”, afirma a coordenadora.

Perfil dos estudantes de Turismo

Pesquisa apresentada durante a audiência pelo professor Carlos Leal, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro da Diretoria do Fórum Nacional de Cursos Superiores de Turismo, Hospitalidade e Lazer, mostra que o perfil dos ingressantes em cursos de Turismo no Brasil é semelhante no território nacional.

O levantamento foi realizado com alunos que se encontram no primeiro ou no segundo semestre do curso técnico ou bacharelado. 344 alunos responderam à pesquisa, e 71,9% afirmaram ser advindos de escolas públicas. “A democratização que se deu em turismo deve ser olhada. Se eles vêm de escolas públicas, precisam de algum apoio para se manter”, afirma.

Complementando os dados, representante da Rede Brasileira de Observatórios de Turismo (RBOT), Giovanna Tavares, explicou que a rede produz dados, analisa perspectivas e conjunturas, além de promover pesquisas sobre o setor.

Um levantamento recente mostra que 96% das pessoas ligadas às redes de turismo formação superior na área. Os observatórios trabalham na pesquisa sobre o perfil dos turistas, média de permanência, média de gastos e outros indicadores que podem ajudar a desenvolver o turismo brasileiro.

 

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