Evento on-line reuniu especialistas para discutir impactos do tarifaço, cenário geopolítico, políticas públicas e estratégias para fortalecer a inserção do Brasil no mercado internacional
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) realizou, nesta terça-feira (18), o Fórum Comércio Exterior – Desafios e Oportunidades, promovido pela Assessoria das Câmaras Brasileiras do Comércio e Serviços (ACBCS) em parceria com a Assessoria de Gestão das Representações (AGR). Transmitido ao vivo pelo canal CNC Play, o evento reuniu especialistas para debater os principais temas que impactam o comércio exterior brasileiro, como o Tax Free, o “tarifaço” anunciado pelo governo norte-americano e as mudanças no cenário político e econômico nacional.
A abertura contou com a participação do presidente da CNC, José Roberto Tadros, que destacou a relevância do debate diante das pressões econômicas e geopolíticas atuais. “Para ser bem recebido, o Brasil precisa garantir autonomia e competitividade – pilares fundamentais para preservar as empresas, os preços e a soberania econômica do País. Que este seja um espaço de reflexões e caminhos concretos para posicionar o Brasil no cenário internacional”, destacou Tadros.
O 2º vice-presidente da CNC e presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, também participou da abertura e reafirmou o compromisso da CNC com o desenvolvimento econômico e a inserção competitiva do Brasil no mercado global. “A CNC, por meio de suas Câmaras, reafirma o compromisso de defender os interesses do setor, promover o desenvolvimento econômico e contribuir para a inserção competitiva do Brasil no mercado global. Seguiremos firmes nesse propósito, com diálogo, cooperação e visão de futuro”, ressaltou Bohn.

Atuação internacional e Câmaras da CNC ganham destaque
O gerente da AGR Sérgio Henrique apresentou o trabalho da assessoria, que hoje ocupa mais de 200 assentos em colegiados, conselhos e fóruns nacionais e internacionais. “No cenário externo, temos atuado para consolidar a presença da CNC em organismos multilaterais, como na Conferência Internacional do Mercosul, realizada recentemente no Rio de Janeiro. Este Fórum é um espaço de aprendizado, troca de experiências e aprofundamento das relações comerciais e internacionais, reafirmando nosso compromisso com o diálogo e a cooperação entre os diversos atores do comércio e das relações exteriores”, disse Sérgio.
Para finalizar esse momento de abertura do Fórum, a gerente da ACBCS Andrea Marins contextualizou o papel das Câmaras Brasileiras do Comércio e Serviços, órgãos consultivos da Presidência da CNC, que atuam na formulação de estratégias e ações para o fortalecimento do setor. “Contamos com 11 Câmaras ativas, compostas por lideranças empresariais e sindicais, que atuam de forma voluntária e comprometida com o fortalecimento do Sistema Comércio. É nesse ambiente de diálogo e cooperação que nasceu a demanda por este Fórum, que busca refletir sobre temas como Tax Free, impactos do tarifaço e mudanças no cenário político e econômico global”, explicou Andrea.

Especialistas discutem desafios e oportunidades do comércio exterior
O Fórum contou com o painel composto por José Carlos Raposo, presidente da Feaduaneiros e integrante da Câmara Brasileira do Comércio Exterior (CBCEX); Otávio Leite, consultor da Fecomércio-RJ; Fabio Bentes, economista-chefe da CNC; e Felipe Miranda, coordenador Legislativo da Diretoria de Relações Institucionais da CNC. A mediação foi conduzida pela jornalista Karina Praça, da Gerência Executiva de Comunicação da CNC.
Durante o Fórum, os especialistas abordaram temas centrais para o comércio exterior brasileiro, como o papel estratégico das exportações no desenvolvimento nacional e os efeitos das tensões geopolíticas e do protecionismo global sobre a competitividade do País. Também foram discutidos os impactos das políticas tarifárias e das barreiras comerciais, além das perspectivas para o Brasil se inserir de forma mais competitiva nos mercados internacionais.
O debate incluiu ainda estratégias de resiliência e políticas públicas capazes de mitigar os efeitos de cenários adversos, com destaque para o papel do Congresso Nacional na formulação da política de comércio exterior e para a atuação da CNC em fóruns nacionais e internacionais. A crise estrutural na China e seus reflexos na balança comercial brasileira foram analisados, assim como o Plano Brasil Soberano, criado para apoiar exportadores afetados por barreiras externas.
Outro ponto relevante foi a discussão sobre os gargalos logísticos que encarecem as exportações brasileiras e a necessidade de diversificação de mercados para reduzir a dependência de grandes parceiros comerciais. A performance do Brasil, especialmente no segmento de viagens, e as ações para combater o déficit na balança de pagamentos também foram abordadas, além de alternativas para ampliar o comércio no Mercosul e promover o turismo brasileiro nos mercados internacionais.
Destaques do painel: posicionamentos e propostas dos especialistas
José Carlos Raposo Barbosa ressaltou a atuação dos despachantes aduaneiros em 95% dos processos de comércio exterior e alertou para os riscos da falta de fiscalização nas remessas/pequenas encomendas, pois isso abre precedente para entrada de drogas, armamentos e outros riscos. “Estamos tratando de comércio exterior, mas também de segurança nacional. Trabalhamos com os documentos de embarque fornecidos pelo importador, mas muitas vezes o que é detalhado no documento não corresponde ao que é enviado fisicamente.
Raposo também defendeu melhorias na infraestrutura e reposição de pessoal nos órgãos anuentes. “A falta de funcionários nos órgãos anuentes, como Receita Federal, Anvisa, Agricultura e Ibama, causa atrasos que geram custos elevados para os empresários. Precisamos de reposição de pessoal e estrutura adequada para garantir agilidade e competitividade nas exportações.”

Otávio Leite destacou o turismo como vetor de exportação e apresentou dados sobre o potencial do Tax Free: “60% dos turistas que já consumiram afirmaram que comprariam mais com o Tax Free. E entre os que não consumiram, 30% passariam a comprar. Isso representa uma injeção significativa de recursos na economia do Rio de Janeiro, quase dobrando o gasto médio atual.”
Leite também defendeu a livre iniciativa como pilar para dinamizar a economia. “Quanto mais exportarmos, melhor para a economia. É preciso estimular a produtividade, reduzir tributos e apoiar o empreendedorismo. A livre iniciativa é indispensável para que o Brasil se torne mais competitivo.”

Felipe Miranda abordou os impactos do tarifaço e detalhou o programa Brasil Soberano. “Foi criado o programa Brasil Soberano, com uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para fomento às exportações, incluindo benefícios específicos para pequenas empresas, como ressarcimento de até 6% sobre valores exportados e ampliação de prazos para pagamento.”
Miranda também apontou os gargalos logísticos e defendeu a diversificação de mercados. “A CNC tem acompanhado de perto temas como a malha aérea, a cabotagem e a infraestrutura portuária. O Brasil precisa reduzir sua dependência de grandes parceiros comerciais, como China, Estados Unidos e Argentina. Diversificar é essencial para ampliar oportunidades.”

Fabio Bentes analisou os efeitos da desaceleração da China e da tributação sobre importações de baixo valor. “Quando a China desacelera, ela reduz a demanda por produtos que exportamos, como soja e minério de ferro, e, ao mesmo tempo, adota políticas para incentivar suas exportações. Isso cria um duplo desafio para o Brasil.”
Bentes completou: “Apesar dos desafios, há espaço para crescimento. O Brasil tem um potencial enorme no comércio internacional. Com a queda dos juros, esperamos um impulso no setor de serviços e turismo, beneficiando diretamente a economia.”

Encerramento reforça diálogo entre setor produtivo e poder público
Já nas considerações finais do Fórum Comércio Exterior, Felipe Miranda destacou o engajamento institucional da CNC. “Hoje, vemos o poder público mais ativo e dedicado às resoluções em torno do comércio exterior. O Brasil está acompanhando os debates e propondo políticas que fortalecem o setor e promovem o desenvolvimento das empresas representadas.”
Fabio Bentes agradeceu a oportunidade de participar e contribuir com o debate. “Um tema tão importante e atual como este merece ser tratado com profundidade. Agradeço à CNC, à AGR, à ACBCS e aos colegas que compartilharam ideias e contribuíram para esse momento de reflexão.”
Otávio Leite reforçou o papel estratégico do Sistema Comércio. “O comércio exterior é indispensável para o futuro do Brasil. Precisamos oferecer oportunidades aos nossos exportadores e empreendedores, ouvindo as bases e propondo ideias úteis para o País.”
Por fim, José Carlos Raposo Barbosa encerrou o debate com um convite: “A Feaduaneiros estará presente na Intermodal 2026, em São Paulo, nos dias 14 a 16 de abril, com o apoio do Sistema CNC – Sesc – Senac. É uma oportunidade para quem atua no comércio exterior conhecer mais sobre o setor e se capacitar.”
Karina Praça, mediadora do Fórum, agradeceu a participação de todos e reafirmou o compromisso da Confederação: “A CNC reafirma, por meio de iniciativas como esta, o seu compromisso com o fortalecimento das empresas do setor terciário e com a participação ativa do Brasil no cenário internacional, sempre em defesa do desenvolvimento econômico e da competitividade nacional.”