No CNC Global Voices 2025, realizado nesta terça-feira (14) em São Paulo, o professor e cientista político Heni Ozi Cukier, o Professor HOC, apresentou um dos painéis mais instigantes do evento, ressaltando como a geopolítica vem moldando decisões econômicas e estratégias globais de poder. Com uma apresentação cheia de análises históricas e provocações sobre o cenário atual, que encerrou a programação do evento, Heni destacou que “hoje, entender o mundo exige considerar não só o risco político, mas o risco geopolítico em cada tomada de decisão”.
Segundo o professor, a economia global vive um momento de reconfiguração profunda. Ele explicou que as novas estratégias de produção e comércio, como China Plus One, nearshoring e friendshoring, revelam um mundo em que “não é mais a lógica econômica pura que define para onde o mercado vai, mas sim o risco geopolítico incorporado à decisão”.
Professor HOC analisou o chamado “tarifaço”, imposto pelo presidente norte-americano Donald Trump, como o episódio geopolítico mais relevante do ano. “O diagnóstico norte-americano estava correto: o modelo chinês de desenvolvimento cria desequilíbrio global. Mas o remédio, o tarifaço, foi completamente equivocado”, afirmou. Para o professor, ao impor tarifas de forma repentina e generalizada, os Estados Unidos revelaram vulnerabilidades e abalaram a confiança internacional na previsibilidade de sua economia.

Em relação à China, o professor destacou que a China, por sua vez, respondeu dobrando a aposta: reduziu reservas em dólar, aumentou a compra de ouro e passou a incentivar o uso de sua própria moeda no comércio internacional. “O colapso do dólar colocaria a principal potência mundial diante de uma percepção de fraqueza extrema. E é isso que a China quer explorar”, avaliou.
O painel também discutiu tensões militares e políticas em outras regiões. Heni alertou para os riscos de novos conflitos na Europa, com a Rússia testando os limites da OTAN. Sobre a Índia, o professor apontou seu papel estratégico: “é o fiel da balança do equilíbrio global, disputada tanto pelas democracias ocidentais quanto pelo eixo formado por Rússia e China”.
Ao tratar da América do Sul, Heni mencionou o risco de uma operação militar americana na Venezuela e o impacto que isso poderia ter no Brasil. Para ele, a posição brasileira deve ser de neutralidade estratégica. “Quanto mais neutro o Brasil for, melhor conseguirá transitar nesse ambiente de turbulência global”.
Encerrando a palestra, o professor ressaltou que a atual conjuntura oferece oportunidade rara para o Brasil. “Estamos diante de um redesenho das cadeias globais de valor. O País tem todos os atributos para se inserir com força nesse novo mapa — território continental, energia limpa, agro poderoso e relevância ambiental. Mas precisamos ter diretriz política clara e equilibrada”, concluiu.
A palestra do Professor HOC reforçou o propósito do CNC Global Voices de promover reflexões estratégicas sobre o papel do Brasil no cenário internacional, mostrando como a compreensão dos riscos geopolíticos e a determinação de uma estratégia equilibrada são essenciais para que o País aproveite oportunidades e fortaleça sua posição global, retomando o mesmo foco do início do painel: a importância de entender o mundo por meio da lente da geopolítica.
Veja aqui as fotos do evento.