As variações bruscas na cotação do barril do petróleo, entre US$ 100 e US$ 140, elevaram para as alturas os preços dos combustíveis no Brasil, piorando ainda mais o quadro do setor, já agravado pela inflação. O presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares, alertou principalmente para o risco de racionamento do fornecimento de diesel, caso o conflito no Leste Europeu se prolongue.

Ele pondera que as interferências no Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras provocam o desinteresse da companhia em importar diesel. Tal postura vem levando as distribuidoras a contingenciar os estoques, o que pode resultar na racionalização ou no racionamento do combustível em todo o País.
Ele frisou ainda que a Fecombustíveis vem alertando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) sobre as dificuldades das empresas em comprar diesel. Segundo ele, os postos de bandeira branca, ou seja, aqueles que não são franqueados às principais distribuidoras, são os maiores prejudicados. “Os postos ‘bandeirados’ têm menos dificuldades para manter o estoque, em detrimento dos postos de bandeira branca. Já temos notícias de postos secos, sem estoque de diesel”, afirmou.
Insegurança alimentar

A guerra na Ucrânia agravou a crise no setor alimentício brasileiro, que desde janeiro deste ano sofre com a queda nas vendas por causa da inflação, destacou o coordenador da Câmara Brasileira do Comércio de Gêneros Alimentícios (CBCGal) da CNC, Álvaro Furtado.
De acordo com ele, o aumento de preços dos alimentos básicos levou as famílias a entrarem no “modo sobrevivência”, isto é, a buscarem os itens mais baratos possíveis, que geram pouca margem às empresas.
Este cenário ruim afeta os estabelecimentos de todos os portes, o que leva ao corte de custos operacionais e à redução do quadro funcional. Mas, principalmente, disse Furtado, é evidente a preocupação com a segurança alimentar da população brasileira mais pobre. “A guerra desestruturou o ambiente internacional de alimentos. Chegaremos à escassez de matéria-prima alimentar, reflexo dos preços altos e da inflação em diversos países”, analisou o presidente da CBCGal. “Nós torcemos pelo cessar-fogo o quanto antes.
Ainda que a guerra acabe, teremos que fazer uma reengenharia de toda a cadeia alimentar.” Taxa de câmbio No comércio exterior, o coordenador da Câmara Brasileira de Comércio Exterior (CBCex) da CNC, Rubens Medrano, pontuou que o conflito no Leste Europeu elevou sobremaneira os custos de frete internacional. O combustível de navios, chamados de bunker oil, foi reajustado em 80%.
Além disso, a guerra escasseou a oferta de insumos e componentes eletrônicos, reduzindo o volume de negócios. Diante do cenário emergencial, Medrano afirmou que a solução tem sido renegociar com os fornecedores para evitar o repasse imediato dos reajustes ao consumidor final. “O panorama é preocupante para o comércio. Estamos sentindo os efeitos da volatilidade do mercado.
Se não houver uma resolução, esse conflito poderá trazer consequências no abastecimento”, alertou. Apesar da elevação de custos, o comércio importador vive um bom momento. A taxa cambial mais baixa, de R$ 4,90, provocada pela conjuntura adversa do mercado internacional, é um fator que alivia o setor.
De acordo com a economista Izis Ferreira, o dólar em baixa é um fator que alivia a inflação doméstica, mesmo temporariamente. Ela explicou que a alta dos juros no Brasil está atraindo os investidores externos, que buscam outros países para aportar seus investimentos, após o conflito entre Rússia e Ucrânia. “O Brasil, no momento, funciona como uma opção de retornos mais elevados, pelo menos, por enquanto.
Mas a proximidade do processo eleitoral, a dinâmica dos gastos públicos este ano e as expectativas para a dívida pública no médio prazo podem mudar esse cenário”, afirmou.
Juros altos
Para conter o avanço da inflação, agravada pelos efeitos da guerra, o Banco Central do Brasil apertou ainda mais os cintos e elevou a taxa Selic a 12,75% ao ano. A taxa está no maior nível desde abril de 2017, quando chegou a 12,25% em termos anuais. Izis Ferreira avaliou que o comércio terá um cenário difícil ao longo deste ano, não só por causa da inflação, mas também pelos juros altos, que irão afetar, principalmente, os segmentos que dependem do crédito para impulsionar o consumo. “Ainda estamos na trajetória de alta dos juros, em razão da inflação alta”, afirmou. No entanto, a expectativa do Banco Central é que os juros comecem a cair a partir de abril.