Valor Econômico Editoria: Brasil Página: A-3
Ao longo de 2006, a taxa de câmbio que realmente interessa para o exportador melhorou em relação à cotação do fim de 2005. A moeda brasileira estava, no fim do ano passado, 9,1% mais valorizada do que o nível de equilíbrio de longo prazo, bem menos que os 20,9% do quarto trimestre do ano anterior.
Valor Econômico Editoria: Brasil Página: A-3
Ao longo de 2006, a taxa de câmbio que realmente interessa para o exportador melhorou em relação à cotação do fim de 2005. A moeda brasileira estava, no fim do ano passado, 9,1% mais valorizada do que o nível de equilíbrio de longo prazo, bem menos que os 20,9% do quarto trimestre do ano anterior. Os números fazem parte de um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que calculou a taxa real de câmbio efetiva em comparação com a dos principais parceiros do Brasil, responsáveis por 75% do comércio exterior do país. Fatores como a melhora dos termos de troca (a relação entre preços de exportações e de importações) e a queda dos juros reduziram a magnitude da valorização efetiva do câmbio em 2006. No começo de 2007, porém, esse processo foi revertido, avaliam economistas do instituto, uma vez que a moeda se apreciou em termos nominais numa magnitude provavelmente não compensada por outras variáveis.
Para o Iedi, o instrumento mais eficaz para corrigir o problema é acelerar a redução dos juros.
Em evento no instituto, seus membros também defenderam outras propostas para ajustar o câmbio, como o corte dos gastos públicos e medidas que permitam ao exportador reter por mais tempo seus recursos no exterior e façam o importador antecipar pagamentos.
A valorização do câmbio de 9,1% em relação à taxa de equilíbrio, registrada no fim de 2006, significa que, em vez de R$ 2,15, o dólar deveria estar cotado a R$ 2,37. Esse seria o valor nominal equivalente ao nível de equilíbrio. Segundo o economista-chefe do Iedi, Edgard Pereira, essa taxa resulta de quatro fatores: os termos de troca, a diferença entre o crescimento do Brasil e do mundo, o saldo da balança comercial e o diferencial entre os juros externos e internos.
A valorização vem desde o começo de 2005, tendo atingido o ápice de 20,9% no quarto trimestre daquele ano. Em 2006, a apreciação real diminuiu gradualmente, até bater nos 9,1% do quarto trimestre. Não há números para 2007 porque não estão disponíveis todas informações sobre os parceiros comerciais do país.
Mas Pereira acredita que a valorização voltou a crescer neste ano, já que o dólar caiu de R$ 2,15 para a casa de R$ 1,95. O principal motivo para essa queda, segundo ele, foi a redução do ritmo de redução da taxa Selic ocorrida a partir de janeiro, de 0,5 para 0,25 ponto percentual a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). “O erro ocorreu aí, nessa inflexão da política monetária”, diz Pereira, lembrando que o risco-Brasil continuou em queda. Essa combinação elevou a atratividade das aplicações financeiras em reais.
O economista Paulo Rabello de Castro, sócio da RC Consultores, estima que, se o BC não mudar a política de reduções graduais da Selic, o câmbio vai terminar o ano em R$ 1,80. Mas, se os juros reais caírem mais rápido, ficando em 6,5% em 2007 e não em 8%, a moeda encerraria o ano em R$ 2,07, projeta ele.
Pereira insiste que o caminho mais efetivo para trazer o câmbio real de volta ao nível de equilíbrio é diminuir o diferencial entre os juros externos e internos. A questão é que as outras variáveis, como os termos de troca, não estão sob controle das autoridades.
Ele explica que o Iedi não está dizendo que a taxa de equilíbrio sugerida pelo modelo é a “justa ou a correta”, mas ressalta que ela também indica que o câmbio está fora do equilíbrio. Pereira sugere que, além do corte dos juros, também sejam adotadas medidas que permitam ao exportador manter seus dólares no exterior por mais tempo e obriguem o importador a antecipar pagamentos.
Num momento de forte crescimento global, alguns setores compensam o câmbio valorizado com aumentos de preços, como a indústria de carnes. O presidente do Conselho de Administração da Sadia, Walter Fontana Filho, diz que isso permite à empresa manter a competitividade nas vendas externas. O problema é que, com um dólar muito barato, o “Brasil começa a ficar menos competitivo na agregação de valor para a exportação, e não apenas na indústria automobilística, ou na indústria têxtil, mas também em indústrias com a de carne”, afirma.
O presidente do Iedi, Josué Gomes da Silva, diz que, no curto prazo, boa parte dos empresários consegue se adaptar ao câmbio, seja transferindo parte da produção para o exterior ou mesmo transformando-se em importadores. O ponto é que isso tem efeitos ruins de médio e longo prazo para a economia, em especial sobre o emprego, avalia ele. Gomes da Silva também defende cortes de gastos públicos e medidas que aumentem a competitividade da indústria, como a desoneração dos encargos trabalhistas. Castro vai na mesma linha, propondo também a redução dos depósitos compulsórios e o fim da isenção de Imposto de Renda para estrangeiros que aplicam em renda fixa no país, de modo a aumentar a oferta de reais e a diminuir a de moeda estrangeira.