Gazeta Mercantil Editoria: Nacional Página: A-9
Dos recursos que ingressaram no País em 12 meses, menos de 10% foram atraídos diretamente pela Selic. Do total de recursos que ingressaram no Brasil registrados pelo Banco Central nos 12 meses encerrados em março, menos de 10% vieram atraídos diretamente pela Selic, atualmente em 12,5% ao ano. No período, o fluxo de dólares para o País somou US$ 113,3 bilhões, sendo que apenas US$ 10,4 bilhões entraram na forma de demais investimentos, especificamente para buscar rentabilidade dos títulos públicos do governo.
Gazeta Mercantil Editoria: Nacional Página: A-9
Dos recursos que ingressaram no País em 12 meses, menos de 10% foram atraídos diretamente pela Selic. Do total de recursos que ingressaram no Brasil registrados pelo Banco Central nos 12 meses encerrados em março, menos de 10% vieram atraídos diretamente pela Selic, atualmente em 12,5% ao ano. No período, o fluxo de dólares para o País somou US$ 113,3 bilhões, sendo que apenas US$ 10,4 bilhões entraram na forma de demais investimentos, especificamente para buscar rentabilidade dos títulos públicos do governo. O saldo comercial – descontado o pagamento das compras – e o crédito comercial de curto, médio e longo prazos somam US$ 64,4 bilhões.
“Mas essa é só a parte mensurável”, alerta o economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon. Para ele, não é possível medir o fluxo do mercado de balcão e de notas estruturadas. “E isso interfere no movimento do câmbio”.
No entanto, ressalta o economista, como o diferencial de juros vem sendo sistematicamente reduzido, a Selic não é o fator mais importante nesse cenário (ver gráfico acima).
Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central e atual sócio da Ciano Investimentos, concorda e diz acreditar que os argumentos para a apreciação do real frente ao dólar não devem se restringir a uma causa ou outra. “Está ocorrendo uma combinação de fatores para isso”.
Antonio Corrêa de Lacerda, professor do Departamento de Economia da PUC-SP, admite que a estrutura comercial tem grande peso. No entanto, salienta, como a taxa real de juros no Brasil, hoje em 8,5%, é cerca de quatro vezes a média internacional e isso dá espaço para operações de arbitragem. “Aqui a dobradinha juros e câmbio continua proporcionando uma verdadeira festança”, diz. “Esse tipo de operação ocorre no mundo todo, pois há quem tome empréstimo no Japão a 0,5% ao ano para especular em outros mercados. Mas, no caso brasileiro, é uma barbada”. De acordo com estudo de Eduardo Loyo, economista do UBS Pactual, se, hipoteticamente, o Comitê de Política Monetária (Copom) fizesse um corte de 2,5 pontos percentuais, trazendo a Selic para a casa dos 10% ao ano, a depreciação do real seria da ordem de 1,5%. “Essa não é, definitivamente, a diferença que os proponentes de quedas mais rápidas estão esperando”, rebate.
Para Loyo, o desejo de afetar a taxa cambial do real não deve ser o principal motivador para as próximas decisões da política monetária pelo BC uma vez que é pouco provável que a política monetária ajude nesse sentido.
Diversidade
Por mais que o Banco Central aumente a intensidade e o volume de suas intervenções, a apreciação contínua do real frente ao dólar é uma realidade. Há dois grupos distintos de economistas que defendem medidas opostas para tentar atenuar essa tendência.
João Sicsú, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira dizem crer que a solução passa pela a adoção de taxas de exportação. Bresser-Pereira especifica que o imposto deve variar de acordo com o preço e a oferta de commodities.
Mas essa não deve ser uma medida isolada. Sicsú apóia o controle na entrada de capitais, juntamente com o aumento das compras pelo BC. A autoridade monetária comprou ontem US$ 2 bilhões e o dólar comercial fechou a US$ 1,926 na ponta de venda. Mesmo com compras do BC totalizando US$ 16 bilhões a queda do dólar frente ao real acumulou 5,4% no mês.
Na linha contrária, Salomon diz acreditar que o aumento mais rápido e acentuado das importações seria a maneira de conter o volume de dólares em direção ao Brasil. “No curtíssimo prazo é mais importante desonerar importações do que adotar medidas para proteger determinados setores”. Ainda mais porque, ressalta, a maior entrada dos importados continuaria a garantir o suprimento de parte da demanda doméstica cada vez mais aquecida sem trazer problemas inflacionários. “Assim, o País pode ter um crescimento maio sem gerar inflação”, diz o economista.
Grande defensor da redução das tarifas para elevar os desembarques, o ex-presidente do BC e atual sócio da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, também considera ser inútil o controle de capitais por acreditar não ser o diferencial de taxas de juros que faz a taxa de câmbio se valorizar continuamente, e, sim, o superávit comercial. “É incontestável”.
O ex-ministro da Fazenda e deputado federal Antonio Palocci (PT-SP) também avalia que o controle de capitais não é a melhor alternativa. “Não me agrada a idéia. Quando os mercados percebem que o governo quer fazer alguma coisa, o nível de apostas dobra. O País precisa é trabalhar na garantia dos instrumentos que fortaleçam a política econômica brasileira”, sentenciou.