Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Felizmente, vivemos um momento histórico em que a educação passou a ser motivo de preocupação prioritária. Vejamos o que ocorreu de especial na recente posse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez uma longa digressão sobre a necessidade de apoio a esse setor estratégico.
Se hoje temos praticamente universalizado o atendimento ao ensino fundamental, na faixa etária dos 7 aos 14 anos de idade, há um viés que nos deixa quase angustiados.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Felizmente, vivemos um momento histórico em que a educação passou a ser motivo de preocupação prioritária. Vejamos o que ocorreu de especial na recente posse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez uma longa digressão sobre a necessidade de apoio a esse setor estratégico.
Se hoje temos praticamente universalizado o atendimento ao ensino fundamental, na faixa etária dos 7 aos 14 anos de idade, há um viés que nos deixa quase angustiados. É o que se passa no ensino médio, etapa essencial na formação integral dos nossos jovens dos 15 aos 17 anos de idade, em que só temos na escola cerca de 45% da população concernente. É muito pouco, sobretudo diante das necessidades de recursos humanos que se avolumam, no nível intermediário.
As causas podem ser variadas. Uma delas, dramática, é a saída dos jovens das escolas para ajudar e reforçar a renda familiar. É evidente que um jovem portador de um diploma de técnico terá muito mais chance de sucesso, a médio e longo prazos, permitindo-lhe melhores salários e ascenção na escala social, como ocorre nas nações industrializadas, que viveram esse mesmo problema.
Há mais de 50 anos, o educador Anísio Teixeira dizia que “o ensino médio é um ensino órfão.” Temos a esperança, agora, de que o Presidente Lula tenha entendido o problema, em sua plenitude, e seja, sem paternalismo, o responsável por essa verdadeira redenção pedagógica. No citado discurso, foi mencionada diversas vezes a expressão “educação de qualidade”, sonho generalizado do povo brasileiro, que deseja a inserção do País na “Sociedade do Conhecimento”, reconhecendo que será fundamental pagar melhor aos professores e dar-lhes uma formação adequada. Ao anunciar que haverá escolas técnicas em cidades-pólo, o Presidente faz renascer a esperança de que, dentro de 10 a 15 anos, surgirá uma nova geração de técnicos, cientistas e artistas originários das camadas mais pobres da população. “Deve-se democratizar não só a renda, mas também o conhecimento e o poder.”
A declaração-compromisso da nossa mais alta autoridade deve ser acompanhada por todos aqueles que podem, de uma forma ou de outra, prestar a sua necessária colaboração. É o que está fazendo a Confederação Nacional do Comércio, construindo uma escola-modelo, na Barra da Tijuca, numa parceira SESC/SENAC, para, a partir do ano próximo, oferecer o ensino médio a 500 filhos de trabalhadores do comércio e serviços, com uma qualidade que só registramos em escolas residenciais de países como os Estados Unidos, em regiões com os padrões de New England.
Há, sabemos, uma grande confusão na legislação do ensino médio, com ou não características de profissionalização. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que comemora os seus 10 anos, foi modificada ao longo do tempo, nem sempre trazendo novas luzes para os velhos problemas. Existe o ensino propedêutico que, em geral, leva os alunos a buscar o ensino superior (saturado) e o ensino profissionalizante, que dá o título de técnico e, ao mesmo tempo, a chance maior de um emprego no mercado de trabalho.
Veja-se o exemplo do Rio de Janeiro. Hoje, processa-se um vigoroso movimento no sentido de atrair novas empresas, nos mais variados setores, como petroquímica, siderurgia, construção naval, indústria automobilística, além do que tudo isso representará para os que se direcionarem às profissões do setor terciário da economia. Levantamento feito pela Secretaria Estadual de Educação comprovou que a maioria dos seus 85 cursos técnicos destina-se a atividades como administração e contabilidade. Haverá um choque, muito em breve, com a falta de profissionais especializados para as novas atividades empresariais no Estado.
Há, pois, um processo de crescimento em curso, com muitas empresas se instalando, sobretudo no interior fluminense, garantindo a ampliação da oferta de novos postos de trabalho. O pólo petroquímico em Caxias vai gerar mais de 20 mil empregos. O pólo de cosméticos em Nova Iguaçu já exporta para toda a América Latina. Em breve, a alemã Thyssen-Krupp construirá uma unidade no interior. Isso tudo são oportunidades visíveis a curto prazo, como é o caso da Petrobras com a refinaria prevista para a região Itaboraí-São Gonçalo. Serão oportunidades de trabalho que vão ser oferecidas a milhares de técnicos.
Essas considerações nos levam a considerar que existe, no Governo, uma vertente conferindo nítida preferência social pelos cursos superiores, e outra que, ao contrário, privilegia o ensino básico. Atualmente, há 5 milhões de estudantes cursando as universidades, no Brasil, mas não há emprego para todos os que se formarem. As chances maiores convergem para as escolas de nível intermediário, onde hoje estudam mais de 9 milhões de jovens brasileiros, inclusive exemplares colégios agrícolas.
Não é de admirar que, convivendo com essas distorções, estejamos em 72o lugar na relação dos países mais desenvolvidos na área da educação (dados da Unesco). Há falta de empregos para formandos em nível superior e uma expressiva demanda para técnicos. A procura maior, nos anúncios publicados na imprensa, é para bombeiros, enfermeiros, técnicos de testes elétricos, vendedores, secretárias, formados em mecânica, eletricidade e eletrônica, técnicos em telecomunicações, polímeros, petroquímica, etc. Não será difícil promover a convergência do grande número de escolas públicas, gratuitas, para essas áreas do mercado de trabalho. É uma questão de coerência.
Publicado no Jornal do Brasil de 12/05/2007.