Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confedração Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Depois de anos de crescimento econômico marcado por taxas modestas de expansão, o momento atual e as perspectivas para o futuro imediato apontam para uma expansão do PIB nacional que poderia muito bem acercar-se dos 5% anuais.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confedração Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Depois de anos de crescimento econômico marcado por taxas modestas de expansão, o momento atual e as perspectivas para o futuro imediato apontam para uma expansão do PIB nacional que poderia muito bem acercar-se dos 5% anuais. Contudo, manter essa cadência de crescimento por vários anos depende da capacidade de o Governo e a Sociedade solucionarem, em tempo hábil, os gargalos que freiam o crescimento.
A opinião pública está cada vez mais consciente de que a infra-estrutura envelhecida é um desses gargalos. Menos evidente, entretanto, é o estrangulamento resultante da falta de gente qualificada para tocar os programas de recuperação da infra-estrutura e não só manter, como melhorar a capacidade produtiva de nossas indústrias e dos serviços. Desse ponto de vista, não deixa de ser um paradoxo a existência de um alto nível de desemprego, em parte compensado por programas assistenciais e pelo trabalho informal, e a crescente oferta de emprego para profissionais qualificados. De repente, os engenheiros tornaram-se fator escasso de produção.
Essas reflexões vêm a propósito do recente inquérito levado a cabo pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre mais de 1700 empresas industriais. Quando o resultado é desdobrado segundo o ramo de atividade, o número de empresas que acusam maior falta de gente capacitada (acima de 50% em cada ramo) vai do farmacêutico ao alcooleiro, passando, entre quinze outros, por máquinas e materiais elétricos, metalurgia básica, minerais não-metálicos, máquinas e equipamentos e material de transporte.
Veja-se o saldo, isto é, perdas (-) e ganhos (+) de vagas formais, segundo o grau de instrução, entre 2000 e 2005. Praticamente, não há oferta de emprego, isto é, vagas criadas para pessoal que não tenha completado a 8ª serie. Nesse segmento do ensino, o que existe é a mortalidade dos postos de emprego, com o fechamento de vagas. Os saldos passam a ser positivos e aumentam à medida que a observação se desloca dos que completaram a 8ª série para o ensino médio e superior. No período focalizado pela sondagem, foram oferecidos 4,6 milhões de postos de emprego para quem tivesse o ensino médio completo e 1,8 milhões para os detentores de diploma de curso superior.
O gargalo é mais estreito quando se trata de pessoal de nível técnico. Dentro de certos limites, os técnicos de nível médio podem ser formados através de estágios “no chão das fábricas” (em inglês o TWI), no qual “se aprende enquanto se faz”. Já na formação de engenheiros, arquitetos, químicos e biólogos, a resposta tem de vir das universidades, ainda que tenha de ser complementada na própria empresa.
Em tempos de escassez nos níveis técnicos, a demanda aquecida por pessoal qualificado induz a uma competição entre as empresas, umas aliciando técnicos de outras, num verdadeiro leilão do trabalho qualificado. Pela ação das chamadas “forças do mercado”, a escassez acaba sendo corrigida via preço, ou seja, pelo atrativo dos salários mais altos cresce a oferta da mão-de-obra especializada. Acontece, entretanto, que, no mundo real, os ajustamentos gerados pelos mecanismos de mercado nem sempre são instantâneos. Há de haver um tempo de espera, até que a situação de escassez seja normalizada.
Nesse interregno, a imprevisão no caso dos investimentos em infra-estrutura e no da educação, com vistas à qualificação das gentes para um novo paradigma técnico-econômico, certamente cobrará dos governantes um alto preço político, se a almejada taxa de 5%, talvez alcançada neste ano, não for sustentada nos anos seguintes.