CNC projeta queda de 6,1% no PIB em 2020 – Ainda no estágio inicial da pandemia no Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 1,5% no primeiro trimestre de 2020, na comparação com os três últimos meses do ano passado, já descontados os efeitos sazonais. Esse recuo – o maior desde o segundo trimestre de 2015 (-2,1%) – interrompeu uma sequência de quatro trimestres de crescimento. Nos últimos quatro trimestres encerrados em março, o PIB brasileiro totalizou R$ 7,3 trilhões. O desempenho do PI B no primeiro trimestre refletiu apenas os danos iniciais provocados à economia brasileira pela pandemia deflagrada pelo novo coronavírus. Tais efeitos se tornaram mais significativos a partir da segunda quinzena de março, quando uma série de decretos estaduais e municipais impôs restrições ao nível de atividade econômica, especialmente nos setores do comércio, nos transportes e nos serviços em geral. A lenta recuperação da economia observada antes da eclosão da pandemia da Covid-19 deverá se reverter em um quadro recessivo a partir do segundo trimestre. A elevada incerteza em relação à superação da atual crise sanitária e ao grau de contaminação da economia ainda dificulta a mensuração dos desdobramentos negativos sobre o nível de atividade. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta uma retração de 6,1% no PIB e de 7,2% nas despesas de consumo das famílias.
Recuperação econômica a caminho – O nível inflacionário está sob controle há alguns anos, tendo terminado 2019 em 4,31%, dentro do intervalo de tolerância da meta de inflação, que é de 4,0%. Ao decorrer de 2020, os resultados continuam se mostrando baixos, sendo de +0,07% em março e de -0,31% em abri l, deflacionário, portanto. A tendência é que esse movimento deflacionário permaneça, com o setor de serviços pressionando os preços para baixo. A demanda por serviços foi muito afetada durante o isolamento social e só será compensada com o reestabelecimento da renda, o que levará mais tempo para ocorrer, e, só então, começará a impulsionar a inflação. Já o comércio deve ter elevação mais rápida nos seus preços. Com a inflação em níveis tão baixos, podendo chegar a 1,5% no acumulado deste ano, o Banco Central poderá reduzir ainda mais os juros, que podem chegar a 2,0% ao fim do ano. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic já sofreu um corte mais intenso do que nas reuniões anteriores, e alcançou o menor nível histórico, 3,0%. Os juros mais baixos ajudam a carregar a dívida pública e estimulam o crédito. O auxílio emergencial do governo também está ajudando na restauração econômica, já que mantém algum poder de compra da população. Contudo, o aumento das despesas nas contas públicas naturalmente injetará cautela nos próximos desembolsos. O fundamental é que o Brasil retome sua política fiscal mais restritiva tão logo possível. O aumento dos gastos com a pandemia precisa ser um fenômeno estritamente temporário, para que no pós-pandemia a economia possa sair mais rápido da crise.
No Brasil, a dívida pública sempre foi de curto prazo – No Brasil, com as expectativas favoráveis em relação ao comprometimento do governo com o seu endividamento, a dívida bruta estava caindo até o início da pandemia. Contudo, a dívida pública neste ano deve crescer muito. Mesmo com isso, é possível voltar à tendência de redução da dívida a partir do ano que vem. Desde que se continue com as reformas, para mostrar a seriedade do governo, este é o fator mais importante. O Tesouro pode administrar esse aumento, desde que ele consiga cortar despesas primárias, vender reservas internacionais e usar recursos devolvidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Essas dívidas sempre foram de curto prazo, devido ao fato das reservas bancárias sempre terem sido desequilibradas. O relacionamento entre o Tesouro Nacional e o Bacen e o monopólio cambial exercido pelo Bacen causam um desequilíbrio permanente nas reservas bancárias e um volume excessivo de operações compromissadas, além de afetar a formação da estrutura a termo das taxas de juros. Mesmo durante a hiperinflação, o Tesouro conseguiu vender seus títulos denominados na nossa moeda. A confiança não era na responsabilidade fiscal, mas na capacidade do Bacen emitir moeda. Hoje, existe confiança na nossa responsabilidade fiscal, o que foi conseguido pelo atual governo, liderado pelo ministro Paulo Guedes.
Deterioração do mercado em curso – A chegada da pandemia da Covid-19 e os efeitos decorrentes das medidas de combate a essa doença avariaram intensamente a economia brasileira no sentido mais estrito. O que poderia parecer bom no começo de 2020 em relação ao desempenho da economia no mesmo período do ano passado transformou-se, agora, num pesadelo. Portanto, o País que vinha se acertando, se ajustando, conseguindo equilibrar a relação dívida pública/Produto Interno Bruto (PIB), entre outras coisas positivas, tendo aprovado a reforma previdenciária, e estava mirando outras reformas – como a administrativa do setor público, a tributária e as privatizações, todas com o fito de tornar o peso do Estado menor para os empreendimentos e mais fácil para cidadãos e empresários de conviver com o mesmo (por exemplo, com a aprovação da Lei de Liberdade Econômica) –, praticamente tudo ficou suspenso, perdeu fôlego e prioridade para as emergências de curto prazo e os desafios a serem enfrentados para evitar o colapso econômico com a Covid-19. Assim, o enfermo que estava em vias de tomar alta medicamentosa porque se aparentava mais saudável em virtude de estar se fortalecendo, de uma hora para outra, teve que retornar ao tratamento médico, sendo que, desta vez, porque passou a enfrentar uma doença sem precedentes, enquanto as prescrições têm sido no sentido contrário a todo esforço aplicado no tratamento anterior. Na crise de 2015 e 2016, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estimou que, nesse intervalo, somado ao primeiro semestre de 2017, mais de 230 mil estabelecimentos comerciais haviam fechado suas portas. Desta vez, a situação se caracteriza sendo pior em razão da verticalidade da queda e intensidade dos efeitos nocivos à economia. De acordo com pesquisa recente do Sebrae, 600 mil micro e pequenas empresas encerraram seus negócios, revelando como sequela colateral nove milhões de trabalhadores sem emprego.