* por Carlos Thadeu de Freitas Gomes, Chefe da Divisão Econômica da CNC
A expectativa no começo do governo Bolsonaro era de que o dólar ficaria bem comportado, devido às possibilidades das Reformas no Brasil. Logo no início do mandato houve a Reforma da Previdência, marcando o ano de 2019, que não foi necessariamente a melhor opção, mas a que conseguiu solucionar o urgente: reduzir a despesa previdenciária. Também no início do atual governo, a política fiscal começou a mostrar resultados devido a contenção de despesa federais e desalavancagens dos bancos. A trajetória da dívida pública no Brasil começava a refletir essas mudanças, mas logo em seguida eclodiu a pandemia, que alterou radicalmente a estratégia de redução de despesa.
A política mais rapidamente implementada para minimizar os impactos sociais da crise sanitária foi justamente a expansão das despesas, com o auxílio emergencial e repasses aos Estados para investirem no setor de saúde. Esses gastos foram considerados fora da meta fiscal, e tiveram sucesso do ponto de vista do suporte aos cidadãos mais vulneráveis, porque nenhum brasileiro foi abandonado.
O Governo direcionou um arsenal de medidas para combater os efeitos da crise na economia, com grande relevância ao auxílio emergencial (AE) ou “corona voucher”, que possibilitou aos mais frágeis o pagamento de despesas e manutenção do consumo de produtos essenciais. A transferência emergencial evitou queda maior da demanda doméstica, variável que nos últimos anos teve atuação importante no PIB. Com a medida, o governo mostrou capacidade ágil de resposta à crise, sem adoção de programas associados a obras públicas. O pacto de que nenhum brasileiro ficaria para trás vem sendo cumprido desde então.
O AE foi, sem dúvidas, a mais rápida ação para garantir renda às famílias. A conservação dos empregos formais pela possibilidade de suspensão do contrato de trabalho ou redução da jornada também foi importante, pois a principal fonte de renda das pessoas é originada do trabalho. No entanto, em função do incremento da informalidade nos últimos anos, era fundamental socorrer as pessoas que de uma hora para outra ficaram sem qualquer fonte de recursos.
Diante da crise sem precedentes, o estado não poderia se furtar de intervir com ampliação dos gastos sociais. No início da crise, céticos duvidaram da adoção de iniciativas mais extensas para garantir o sustento e o consumo, dado o contexto fiscal. O Ministério da Economia provou, entretanto, que é possível combinar uma face liberal com políticas econômicas intervencionistas quando necessário, sem perder a visão do controle dos gastos e do endividamento público.
De acordo com dados da Secretaria do Tesouro, R$ 575 bilhões, ou 8,2% do PIB, é o total de gastos previstos em novembro do ano passado com a crise da Covid-19. Cerca de 85% ou R$ 488 bilhões foram pagos até o momento. Do total pago no orçamento, 56% foram destinados às famílias nos benefícios emergenciais ou cerca de R$ 276 bilhões.
Consequentemente, surgiram expectativas que a inflação voltaria a subir rapidamente, tendo em conta o excesso de gastos públicos. Sob a ótica da demanda, o que houve foi uma transferência de comportamento temporário do consumidor, que trocou o consumo de serviços por bens, influenciando a dinâmica dos preços entre os itens da cesta de consumo. Esse movimento foi mudando ao longo de 2021, e os preços dos serviços foram se recompondo.
Os preços das commodities subindo bastante no exterior tiveram também muita influência dos índices inflacionários, e a política monetária que foi colocada em prática, na época, facilitou a saída de capitais, o que favoreceu a saída de dólar e a taxa de câmbio mais alta.
As contas públicas sob controle no curto prazo, juntamente com a taxa Selic maior, fizeram o dólar reagir com movimentos descendentes, mesmo em ano eleitoral e incerteza política. Essa queda surpreendente do dólar também está contribuindo para ceder as taxas de inflação corrente, em que veremos o IPCA cair nos próximos meses, o que é uma boa notícia para os orçamentos das famílias.
As possíveis reduções do IPI da gasolina, do diesel, e gás, influenciando também outros produtos, farão o IPCA ficar abaixo de 5% esse ano. Em consequência, a atividade deve reagir mais rapidamente, contrariando as previsões mais pessimistas, que esperavam um PIB menor do que 1%. Como as taxas de juros não devem cair ainda esse ano, a tendência do dólar é continuar no patamar em torno de 5 reais, favorecendo a dinâmica inflacionária e o comportamento dos próprios juros mais à frente.