Oportunidades para a educação no mundo pós-pandemia

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Raniery Pimenta*

Costuma-se dizer que, para quem não sabe aonde ir, qualquer caminho serve. Fico imaginando aqueles que fogem deste ditado popular e buscam construir objetivos e metas com base em um futuro mesmo que incerto, mas que os norteia. Nos últimos dias, com a pandemia da covid-19, é certo dizer que o norte de repente sumiu. Isso não significa, no entanto, que ele deixou de existir, mas que ele mudou de lugar, e ainda não sabemos onde está. Sim, sabemos que o mundo é VUCA (Volátil, Incerto, Completo e Ambíguo, no acrônimo em inglês), mas ele nunca foi tão VUCA quanto hoje.

Nesse sentido, há aqueles que esperarão para ver aonde o norte vai parar, e há aqueles que construirão o futuro. Creio que nossa geração está tendo uma oportunidade imensa de construir o novo normal. Cito isso, pois vejo pessoas falando que não veem a hora de tudo voltar ao normal. Porém, é preciso compreender que a vida como conhecíamos acabou. Haverá um novo normal. Você imagina, por exemplo, alguma empresa que não passe a considerar efetivamente que parte da sua força de trabalho continue a trabalhar em home office, após a crise?

Dois temas sobre os quais tenho me debruçado nos últimos anos são o “Futuro do Trabalho” e o “Futuro da Educação”, dando ênfase às Soft Skills mais importantes (Comunicação, Resolução de Problemas; Atenção a detalhes; Pensamento Digital e Poder de Adaptação). Dentre elas, sempre destaquei a Adaptabilidade e, no momento atual, diria que ela é ainda mais importante. Reforçaria também que Pensamento Digital e Resolução de Problemas subiram muito na cotação e são imprescindíveis na construção do novo normal. Quando falo sobre Educação 4.0, aquela em que os alunos aprendem por meio de projetos colaborativos e com recursos tecnológicos sendo usados de maneira criativa, de forma a reduzir as barreiras entre o presencial e o on-line, destaco que não há mais de se pensar em uma educação totalmente presencial e desconsiderar todas as possibilidades do que o digital pode acrescentar.

O pensador norte-americano Alvin Toffler é autor da célebre frase: “Os analfabetos do século 21 não serão aqueles que não podem ler e escrever, e sim aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender”. Nesse contexto, a pandemia da covid-19 tornou ainda mais essencial para pessoas e empresas a capacidade de aprender, desaprender e reaprender. E agora é o momento de botar isso verdadeiramente em prática.

Para o segmento educacional, essa necessidade é ainda mais urgente. De acordo com dados do Banco Mundial, em pouco mais de três semanas, cerca de 1,4 bilhão de estudantes ficaram fora da escola em mais de 156 países. O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) estima que, na América Latina e no Caribe, aproximadamente 95% dos alunos matriculados estão temporariamente sem aulas em decorrência da covid-19.

Com escolas fechadas, vários países têm intensificado seus esforços para mitigar a descontinuação das aulas, introduzindo o ensino a distância. Obviamente, muitos são os desafios, visto que essa estratégia depende de infraestrutura e familiaridade dos alunos e educadores com as ferramentas tecnológicas de aprendizagem a distância existentes.

Em que pesem os diversos entraves a serem superados, acredito que estamos vivendo a hora e a vez da aprendizagem mediada pela tecnologia. A Educação 4.0 exige de nós o “learning by doing”, ou seja, que aprendamos enquanto estamos com a mão na massa. E isso nunca fez tanto sentido quanto neste cenário de crise e recomeços. Aquelas empresas que não aproveitarem este momento e passarem por um processo de transformação digital dificilmente sobreviverão aos próximos dias.

Desde 2018, o Senac Rio Grande do Norte tem se dedicado à disseminação do conceito de Educação 4.0 e desenvolvido projetos voltados à implementação da Sala de Aula do Futuro, inicialmente com a instalação dos Laboratórios Senac Microsoft Smartlab – espaços multidisciplinares que possibilitam a implementação de estratégias didáticas inovadoras nos cursos da instituição. Tecnologias como realidade virtual, realidade aumentada, câmeras 360° e softwares para desenvolvimento de projetos colaborativos, inclusive com uso de games, estão disponíveis aos alunos.

Com base em um modelo pedagógico próprio, nosso objetivo é gerar valor aos nossos estudantes, permitindo que eles sejam protagonistas no processo de construção do conhecimento, incentivando o desenvolvimento de competências como criatividade, inovação, resolução de problemas, colaboração, comunicação, adaptabilidade e resiliência.

Neste cenário de pandemia, todas as instituições de ensino precisam fazer o dever de casa e colocar em prática tais competências. Revisar o planejamento com rapidez e manter um bom canal de comunicação com todos os públicos é essencial. Construir soluções e testá-las rapidamente é o único caminho possível neste momento de tantas imprevisibilidades. Neste quesito, temos muito que aprender com as startups e com o conceito de MVP (Produto Mínimo Viável).

Foi inspirado neste modelo de trabalho que, no início de abril, lançamos nossa Sala de Aula Virtual, por meio da qual cerca de 4.500 alunos estão acompanhando as aulas, inicialmente em cursos de segmentos como idiomas, informática, turismo e gestão. Em cerca de 15 dias, transformamos um projeto que estava em fase de ideação em realidade, adaptando nossa metodologia altamente interativa ao cenário on-line, treinando equipe e buscando as melhores soluções para os nossos alunos.

Esta é uma ferramenta que veio para ficar, levando nossos cursos a um modelo híbrido de ensino pelo qual nossos alunos poderão ter acesso a novas ferramentas tecnológicas de aprendizado, para além desta pandemia.

Como uma instituição de educação profissional com um modelo de ensino que privilegia a prática das competências adquiridas, ainda temos vários desafios diante de nós. Porém, outras iniciativas estão em andamento para nos aproximarmos ainda mais dos nossos públicos.

O escritor israelense Yuval Noah Harari defendeu recentemente que a natureza de emergências como a do novo coronavírus faz com que processos históricos avancem muito rapidamente. Em todo o mundo, diversos estudiosos têm alertado exatamente para isto: a pandemia da covid-19 funcionará como um “acelerador de futuros”. As mudanças que imaginávamos para os próximos anos foram antecipadas. O futuro chegou e, para ser relevante, é preciso reaprender e se reinventar, e costumo acreditar que a melhor forma de prever o futuro é construí-lo. Então, que tal aproveitarmos esta oportunidade e construirmos juntos o novo normal?

* Raniery Pimenta é educador, administrador e diretor do Senac-RN

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