Folha de S.Paulo (03/04) trouxe um levantamento exclusivo da CNC que mostra que apenas 3 de 10 segmentos do varejo apresentaram variação positiva no volume de vendas em janeiro deste ano na comparação com fevereiro de 2020 —o último mês completo antes da crise sanitária. Entre móveis e eletrodomésticos, a queda é de 12,3%; informática e comunicação, de 14%.
“A elevação dos preços desses produtos é o primeiro fator a prejudicar o desempenho desses segmentos em 2022”, disse o economista da entidade, Fabio Bentes. “Um segundo problema é que houve um certo esgotamento do ciclo de consumo de bens duráveis. A partir de junho de 2021, móveis e eletrodomésticos começaram a ter meses de quedas ou de baixos crescimentos, e o varejo tem dificuldade para sustentar o nível de antes.”
Artigo do editor-executivo do Valor Econômico, Sergio Lamucci, afirma que a alta das commodities afeta a economia brasileira em várias dimensões, e com impactos conflitantes.
Para ele, o eventual impulso à atividade tende a ter fôlego curto, uma vez que o impacto defasado da alta forte dos juros vai bater sobre a economia no segundo semestre deste ano e no ano que vem. O custo de empréstimos e financiamentos vai aumentar, num cenário em que a parcela das famílias com alguma dívida atingiu o recorde de 77,5% em março, segundo pesquisa da CNC.
O Globo e Valor Econômico trazem cobertura do seminário “E agora, Brasil?”, patrocinado pelo Sistema Comércio, através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações, que discutiu a guerra entre Rússia e Ucrânia. Segundo os debatedores, esse é um evento histórico com potencial para redefinir a ordem econômica mundial. Se o impacto mais imediato para a economia brasileira da guerra foi uma alta forte do petróleo no mercado internacional, o consenso é que o mundo pós-guerra levará a uma reconfiguração nas relações internacionais.
Para José Roberto Tadros, presidente da CNC, o momento exige cautela dos empresários. “Junto com o drama humanitário de um conflito que está cobrando um alto preço da população civil ucraniana, vem também o efeito na cadeia de suprimentos do setor produtivo, que acaba reverberando em todo o mundo. O Brasil já estava enfrentando a necessidade de controle da inflação, e a guerra trouxe mais um componente para este cenário”, comentou.
Em conteúdo publicitário complementar publicado em O Globo, texto ressalta que, para o comércio, o quadro é especialmente delicado: o aumento dos combustíveis e dos alimentos tende a pressionar ainda mais os pregos no varejo. Nem o dólar em baixa, devido à busca por mercados emergentes alternativos à Rússia, tem sido capaz de aliviar a subida da inflação, com previsão de taxas altas em março e abril.
Também os juros ainda estão em trajetória de crescimento. “Há grandes chances de aumento dessas taxas, impactando atividades mais dependentes das condições de crédito”, avalia o presidente da CNC.
Diante dos problemas adicionais criados pela guerra, a CNC reduziu a previsão de aumento de vendas no varejo em 2022. “A gente tinha uma expectativa de o comércio crescer 0,9% em volume de vendas, mas, com o conflito no Leste Europeu, a expectativa é de que cresça somente 0,5% este ano, em razão das pressões inflacionárias maiores, da disseminação de inflação, e isso faz com que haja necessidade de juros altos por mais tempo. O que afeta segmentos do varejo dependentes do crédito, como materiais de construção, comércio automotivo, bens duráveis, eletrodomésticos, eletro-eletrônicos”, explica Izis Ferreira, economista da CNC.
Outro texto ressalta que o impacto negativo do aumento dos combustiveis, em decorrência da alta do petróleo, tem afetado gravemente o setor aéreo, que ensaiava uma recuperação depois dos prejuízos causados pela pandemia.
“O querosene de aviação está se transformando em um custo cada vez mais pesado para as companhias aéreas”, afirma Fabio Bentes, economista da CNC. Nos três primeiros meses deste ano, o aumento do QAV chegou a 15%. Estudos da CNC apontam que o prego pode aumentar ainda mais 11% nos próximos meses.
Jornal da GNews (Globo News, 03/04) informou que a parcela de famílias com dívidas, em atraso ou não, no país atingiu 77,5% em março deste ano. Essa é a maior proporção de endividados desde o início da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em 2010, segundo a CNC. |