
Desde novembro do ano passado, o Banco Central vem modernizando o sistema financeiro e ampliando sua importância na economia. “O Pix foi o primeiro passo para o BC se descolar da função estrita de financiador de última instância”, ressaltou o economista-chefe da CNC, Carlos Thadeu de Freitas.
Na sequência dessa jornada, o open banking deve ter sua última fase iniciada em dezembro de 2021. “O terceiro pilar da transformação e da consolidação do Banco Central como o grande garantidor do sistema financeiro no País será a implementação do real digital, com expectativa de funcionamento para aproximadamente dois anos”, antecipou.
Para Thadeu, com a evolução e a maior adesão ao Pix, a população está se acostumando com o ambiente digital e suas facilidades. “E o comerciante também vem sendo muito beneficiado por essa inovação, com seus estabelecimentos pagando pacotes de tarifas mais baratos e otimizando seus fluxos de caixa, com recursos disponíveis na conta no ato do pagamento”, destacou.
Enquanto o Pix é centralizado no Banco Central, o open banking opera por um sistema bilateral de troca de dados entre instituições financeiras. A instauração do sistema será realizada em quatro fases. A primeira delas, já finalizada, com o compartilhamento de dados públicos das instituições, como a localização das agências, os valores das tarifas e os serviços e os produtos prestados. Na segunda, foram fornecidos dados cadastrais e transacionais dos clientes, como o número da conta- corrente, o nome e o endereço.
Já na terceira etapa, a partir de 29 de outubro, é permitido o compartilhamento de serviços, como pagamentos e oferta de crédito, por exemplo. A quarta e última fase deve começar até 15 de dezembro, dando acesso às instituições financeiras aos dados de demais serviços, como investimentos e seguros, dentre outros.
Com a integração entre o Pix e open banking, haverá o compartilhamento do serviço de iniciação de transação de pagamento de Pix. Essa união dos sistemas permitirá ao usuário iniciar uma transferência via Pix fora do seu aplicativo de banco. Ele poderá iniciar a operação em um site de compras on-line, por exemplo, ou em um aplicativo de delivery, que será automaticamente direcionado para o aplicativo de seu banco para autenticar a transação e depois de volta ao site ou aplicativo de origem. “Essa facilidade incentivará o consumo por meio eletrônico e beneficiará principalmente o e-commerce. Mas é uma melhoria para o futuro”, pontuou o economista-chefe da CNC.

Em 2020, o lançamento do Pix foi uma aposta do Banco Central para se firmar como principal meio de pagamentos, com serviços disponíveis 24 horas por dia, sete dias da semana, concluídos em até dez segundos.
Com o Pix Cobrança, que entrou em operação no segundo semestre deste ano, os estabelecimentos podem agendar um Pix para pagamento em data futura, incluir juros, descontos e outros abatimentos. Essa modalidade viabiliza o uso do sistema por consumidores que não podem realizar opagamento à vista, e tem potencial, inclusive, para reduzir o uso do cartão de crédito.

Os benefícios para o varejo serão ainda maiores com o Pix Garantido, que está em funcionamento desde julho. Com o Pix Cobrança, essas novas funcionalidades devem levar o comércio a aderir ainda mais ao pagamento via Pix.
Novos caminhos
Nos últimos anos, tem se notado uma maior tendência de uso dos cartões ou transferências on-line, processo que foi acelerado na pandemia. Assim, a jornada financeira digital é um caminho sem volta. O uso da moeda em espécie tende a se tornar cada vez mais obsoleto no comércio, sendo o caminho natural a busca por uma moeda digital.
De acordo com dados do Banco Central, em junho de 2021, o total de papel-moeda em poder das pessoas era de R$ 283 bilhões, enquanto o volume de dinheiro depositado em conta-corrente era de R$ 333 bilhões. Pensando nessa tendência, o BC segue para mais um passo na modernização dos meios de pagamentos, ao anunciar que pretende lançar o real digital em aproximadamente dois anos. Os estudos, segundo o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, estão bem avançados. Ele falou sobre o tema durante o evento on-line Expert XP, organizado pela XP Investimentos, ocorrido no dia 24 de agosto.
Ainda não há um cronograma definido, mas o Banco Central pretende promover uma consulta pública sobre a moeda digital nos próximos meses, e disseminar o tema por meio de seminários. Desde julho, a instituição vem desenvolvendo webinários. Um grupo de trabalho também discute e avalia as diretrizes para o desenvolvimento da moeda digital brasileira desde agosto do ano passado.
Uma das diretrizes para o real digital é a total aderência aos princípios e às regras de privacidade e segurança, que garantem o sigilo bancário. Outra é a interoperabilidade e integração para permitir pagamentos transfronteiriços, que deve potencializar o comércio exterior com parceiros comerciais próximos ao Brasil. O BC espera que a moeda digital seja amplamente utilizada pelo varejo, incentivando-a a fazer parte do cotidiano da população, até mesmo dos cidadãos não bancarizados.