Painel Tensões Internacionais e Economia Brasileira reuniu economistas para discutir desafios internos e impactos do cenário global
As incertezas internacionais e o ambiente doméstico de juros elevados dominaram o painel Tensões Internacionais e Economia Brasileira, que reuniu os economistas Fernando Ferreira (XP Investimentos), Gabriel Barros (ARX Investimentos) e Reinaldo Le Grazie (Panamby Capital), sob mediação da jornalista Thais Herédia, da CNN Brasil, no CNC Global Voices 2025, em São Paulo, nesta terça-feira (14).
Os especialistas convergiram na avaliação de que o principal risco à economia brasileira está no desequilíbrio fiscal e na incapacidade do governo de conter o avanço nas despesas públicas. Gabriel Barros alertou que a trajetória da dívida deve se agravar a partir de 2027, exigindo “um ajuste muito mais difícil do que os anteriores”. Segundo ele, o País já parte de um patamar elevado de endividamento e paga juros reais próximos de 7%, o que “consome o espaço de investimento e trava o crescimento”.
Barros chamou a atenção ainda para o aumento de gastos obrigatórios e contrarreformas recentes que ampliaram despesas previdenciárias e reduziram a idade mínima de aposentadoria em algumas carreiras do serviço público. “Estamos desfazendo reformas importantes, como a trabalhista e a previdenciária. Isso já pressiona o orçamento e tende a piorar”, afirmou. O economista também criticou a estratégia de ajuste baseada apenas na recomposição de receitas, sem cortes consistentes nas despesas. “Não há mais atalhos. O problema está no gasto, e, enquanto não enfrentarmos isso, o desequilíbrio vai continuar conosco”, completou.
Na mesma linha, Fernando Ferreira ressaltou que o aparente otimismo dos mercados reflete muito mais o contexto global do que a melhora doméstica no Brasil. “A apreciação do real não é resultado de fundamentos internos, mas de uma desvalorização global do dólar”, explicou. Segundo ele, a entrada de capital estrangeiro tem sustentado os ativos brasileiros, mas de forma frágil e temporária. “O mercado passou por cima dos problemas fiscais. Mas, se o impulso de gastos persistir e o Banco Central ficar impedido de cortar juros, o risco aumenta”.
Ferreira destacou ainda que, embora haja sinais de desaceleração da economia, a inflação segue sob controle, em parte pela valorização cambial, o que abre espaço para o início gradual de cortes na taxa Selic. “A política monetária começa a fazer efeito, e o Banco Central pode iniciar um ciclo de redução no próximo ano, mas ainda com juros muito restritivos”, observou.
Já Reinaldo Le Grazie enfatizou que o Brasil continua pagando “um preço muito alto por sua dívida”, com juros reais entre os mais elevados do mundo — atrás apenas da Turquia. Ele lembrou que, apesar do alívio recente na inflação, o ano eleitoral de 2026 deve trazer expansão fiscal e novas pressões de preços. “Todo ano de eleição é expansionista, e 2026 não será diferente. A inflação de 2027 pode ser maior que a de 2025 porque o fator que a trouxe para baixo — o câmbio — dificilmente se repetirá”, projetou La Grazie.
Le Grazie avaliou ainda que o cenário global, de dívida soberana alta e juros crescentes, impõe limites às economias emergentes e reforça a necessidade de um Estado mais eficiente e menos intervencionista. “O caminho para o Brasil é deixar o setor privado alocar recursos e reduzir o protagonismo do setor público. Só assim poderemos buscar um crescimento sustentado, com menos gastos, menos inflação e juros mais baixos”, explicou.
O painel encerrou com um consenso: sem reforma fiscal e sem estabilidade institucional, o País seguirá preso ao ciclo de endividamento e juros altos, mesmo diante de oportunidades externas favoráveis. Para os economistas, o Brasil precisa adotar uma agenda de longo prazo que una responsabilidade fiscal, racionalidade política e ambiente mais competitivo para investimentos — condições vistas como essenciais para consolidar o crescimento.