Durante audiência na Câmara, diretora Anna Beatriz Waehneldt destacou convergência entre metas do Plano Nacional de Educação e diretrizes do Senac, com foco em expansão de matrículas, interiorização, articulação com o setor produtivo e verticalização dos itinerários formativos
Em audiência pública realizada nesta terça-feira (17) na Câmara dos Deputados, a diretora de Educação Profissional do Departamento Nacional do Senac, Anna Beatriz Waehneldt, representando a Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC), defendeu a importância de se manter a educação profissional como prioridade no novo Plano Nacional de Educação (PNE 2025–2035).
A diretora participou do debate convocado pelos deputados Tabata Amaral (PSB-SP) e Moses Rodrigues (União-CE), com foco nas metas 11 e 12 do novo plano, voltadas à expansão e qualidade da educação profissional e tecnológica (EPT).
“Gostaria de iniciar destacando a existência de uma ampla convergência entre a visão de futuro, as estratégias e os objetivos do Senac em relação à educação profissional e as metas 11 e 12 do PNE”, afirmou Waehneldt. Segundo ela, o plano nacional dialoga com questões centrais do cenário educacional contemporâneo, como a necessidade de sistemas de dados mais robustos, a articulação com setores produtivos e o fortalecimento da verticalização do ensino profissional.
“O plano dialoga com as questões mais fundamentais da contemporaneidade em âmbito mundial, como a criação de bases de dados sobre o mercado de trabalho e a ampliação das matrículas de cursos técnicos, este, um desafio muito específico do Brasil”, completou.

Ampliar matrículas com foco na realidade brasileira
Ao tratar da Meta 11, que propõe elevar o número de estudantes do ensino médio matriculados simultaneamente em cursos técnicos para 50%, Waehneldt ressaltou que o Brasil ainda está distante dessa realidade. “Nosso indicador está *em torno de 12%*. É muito estratégico manter a meta de expansão, pois ela dialoga diretamente com a realidade brasileira. Países da OCDE chegam a 50% ou 60%”, alertou.
Segundo dados apresentados pela diretora, a oferta de educação profissional técnica de nível médio no Senac cresceu 83% nos últimos dez anos (2014-2024). No mesmo período, o número de vagas gratuitas dobrou, dentro do Programa Senac de Gratuidade. Em 2024, a instituição contabiliza *1,5 milhão de matrículas, sendo 870 mil *em cursos gratuitos*.
“O mercado aprecia a formação técnica. Muitas vezes não é um pré-requisito formal de contratação, mas é considerado um diferencial. E o próprio aluno percebe isso, o que torna esse percurso ainda mais relevante para sua inserção profissional”, disse Waehneldt.
Ensino médio técnico cresce
O crescimento expressivo das matrículas no modelo articulado entre ensino médio e curso técnico foi outro destaque da apresentação. “Após a reforma do ensino médio, conseguimos expandir de 27 matrículas em 2018 para 22.803 em 2024, com previsão de atingir 40 mil em 2025”, informou. Boa parte dessas matrículas se dá por meio de convênios com secretarias estaduais de educação.
Ela enfatizou que essa expansão é resultado da abertura legal promovida pela reforma, mas também da demanda do mundo do trabalho. “É uma resposta à pergunta que muitas vezes ouvimos: por que continuar apostando no curso técnico? Porque o mundo do trabalho responde positivamente”, reforçou.
Interiorização e diversificação
A diretora também destacou a importância da interiorização da oferta, apontando que o Senac conta com 689 unidades operativas fixas, além de 89 carretas-escola e uma balsa-escola, garantindo presença em regiões remotas do País. “Isso é essencial para a inclusão e redução das desigualdades regionais”, avaliou.
A diversificação da oferta foi apontada como outra estratégia essencial. “Ela só faz sentido se facilitar a continuidade dos estudos dos jovens e estiver adequada às demandas do mundo do trabalho. Trabalhamos com itinerários formativos, que permitem ao aluno começar na qualificação, seguir para o técnico, depois para o tecnólogo e chegar à pós-graduação, tudo numa linha de desenvolvimento de competências”, explicou.
Verticalização
Waehneldt defendeu que a verticalização, ou seja, a integração entre diferentes níveis de formação, é central para reduzir a evasão e ampliar o engajamento dos jovens. “Muitas vezes, o jovem já está empregado e quer uma formação mais rápida e aproveitar competências já desenvolvidas. A verticalização é o ‘pulo do gato’ para ampliar a adesão à educação profissional”, afirmou.
A diretora apresentou como exemplo o itinerário formativo na área de Tecnologia da Informação, que permite ao aluno começar com uma unidade curricular (por exemplo, 96 horas em redes locais de computadores), seguir para uma qualificação profissional e, com aproveitamento, concluir o curso técnico e posteriormente o tecnólogo, reduzindo em até 400 horas o percurso.
Foco na qualidade, avaliação e empregabilidade
Sobre a Meta 12 do novo PNE, que trata da qualidade e adequação da EPT às demandas da sociedade e do mundo do trabalho, a diretora do Senac enfatizou a necessidade de um sistema de avaliação robusto. “Estamos colaborando com o Inep na criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Profissional Técnica de Nível Médio (SAEPT)”, informou.
Ela apresentou os resultados do Senac no acompanhamento de egressos: a taxa de inserção no mercado de trabalho é de 71,2% para cursos técnicos, podendo chegar a 85,1% nos programas de aprendizagem. “A aprendizagem profissional, por ser baseada no modelo dual, que combina sala de aula e empresa, garante uma inserção mais qualificada”, destacou.
Inovação e articulação com o setor produtivo
Waehneldt reforçou ainda a importância do diálogo permanente com o setor produtivo. “Hoje, empresas como Cisco, Microsoft e Huawei têm suas academias. Precisamos estar próximos dessas transformações. O Senac tem feito isso por meio do Programa Educação Profissional 4.0 e da Rede Senac de Inovação, presente em 14 estados”, detalhou.
Segundo ela, a modernização dos portfólios, a escuta ativa de setores estratégicos e o uso de metodologias ágeis permitem que o Senac antecipe demandas e mantenha a oferta formativa atualizada. “Formação técnica de qualidade, com inserção no mundo do trabalho, exige inovação contínua”, concluiu.
Ela também ressaltou que o curso técnico não deve ser encarado como um fim, mas como um caminho para melhores condições de trabalho e para o acesso ao ensino superior. “Não vamos nos enganar. A educação superior ainda oferece melhores oportunidades de inserção no mundo do trabalho. Por isso, o técnico deve ser uma porta de entrada, não o ponto final”, concluiu