Intenção de Consumo das Famílias atinge menor nível em dois anos

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Alta dos juros, cautela com o mercado de trabalho e endividamento crescente freiam disposição do consumidor de todas as faixas etárias

Aferida mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) voltou a cair em setembro depois da queda de agosto, atingindo os 101,6, o menor patamar desde julho de 2023. O índice recuou 0,9% em relação ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, e acumula retração de 1,9% frente a setembro de 2024.  

O levantamento mostra que a disposição do consumidor segue perdendo fôlego entre todas as faixas etárias. Os lares com ganhos inferiores a 10 salários mínimos caíram 0,8% em relação aos últimos 30 dias e 1,4% no comparativo com 12 meses atrás.  Entre as famílias com rendimento superior a 10 salários mínimos, a retração foi mais acentuada: 3,4% na variação anual e de 1,4 na mensal.

Entre os componentes do ICF, a maior queda no ano veio do item Momento para Duráveis, que recuou 6,9% com o resultado negativo de 0,6% no mês. Sendo o subindicador mais sensível à política monetária, o resultado evidencia a dificuldade das famílias em adquirir produtos de maior valor, como eletrodomésticos e automóveis.

A Renda Atual também mostrou enfraquecimento, com retração anual de 3,8%, a segunda maior do levantamento, sinalizando que a inflação segue corroendo o salário das famílias (-0,6% no mês). Com isso, o Nível de Consumo Atual caiu 1,8% frente a agosto e 1,2 a setembro de 2024.

O item Emprego Atual registrou alta de 0,1% em setembro, mas na comparação anual, houve queda de 1,9%. Já a Perspectiva Profissional recuou 1,7% em 30 dias, interrompendo a sequência de alta, igualando resultado do ano anterior.

“O resultado de setembro indica que as famílias estão receosas sobre a continuidade da geração de empregos, ao mesmo tempo em que enfrentam restrições no crédito e juros elevados. Esse cenário limita o consumo e gera o alerta sobre a necessidade de preservar o poder de compra da população”, afirma o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

Crédito divide opiniões

O Acesso ao Crédito foi o único item analisado a apresentar crescimento no comparativo anual, com avanço de 1,5% (95,2 pontos). O percentual de famílias que consideram mais fácil a obtenção subiu para 33%, a maior taxa desde abril de 2020. No entanto, o indicador caiu 0,6% em relação a agosto, refletindo a cautela diante do aumento do endividamento e da inadimplência, que atingiu o maior nível da série histórica da CNC.

“A pesquisa deixa clara a existência de um paradoxo: apesar da percepção do acesso ao crédito ser maior, o uso permanece contido, refletindo o impacto da taxa Selic elevada e o risco de desequilíbrio financeiro das famílias”, observa o economista da CNC João Marcelo Costa.

Acesse a pesquisa completa – ICF – setembro de 2025

Acesse aqui a série histórica ICF

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