Reunião realizada no Senac-DN reúne especialistas no setor e consolida avanços no programa Vai Turismo e na integração sul-americana promovida pela Fedesud
Os integrantes efetivos do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) se reuniram, no dia 9 de outubro de 2025, na sede do Departamento Nacional do Senac (Senac-DN), no Rio de Janeiro, para um encontro que uniu inovação, política pública e integração regional.
A reunião, mediada pelo coordenador do Cetur, Alexandre Sampaio, e pela gerente do Cetur, Aline Lopes, abriu espaço para apresentações institucionais do Sesc e Senac, debates sobre reforma tributária, inteligência artificial, segurança turística e o Novo Painel Vai Turismo, ferramenta que marca a nova fase de acompanhamento de políticas públicas do setor.
Sampaio destacou a relevância da presença dos representantes do turismo nacional e saudou a participação do presidente da Federação Sul-Americana de Turismo (Fedesud), Jaime Guazzini. “A Fedesud reúne câmaras nacionais de turismo da América do Sul e tem o grande sonho de consolidar nossos países como um bloco de promoção internacional. Isso já acontece em feiras e ações conjuntas e é um caminho promissor para o desenvolvimento turístico da região”, afirmou.
Ecossistema corporativo para o turismo
Abrindo as apresentações institucionais, o assessor de Relações Institucionais do Senac-DN Antônio Henrique apresentou o programa Senac Empresas, ecossistema de soluções corporativas voltado ao fortalecimento da educação profissional e da inovação nos setores de comércio e turismo. Ele enfatizou que o Senac está prestes a completar 80 anos em 2026 e que, em 2024, mais de 72 milhões de pessoas foram atendidas pela instituição. “Nosso diferencial é unir teoria e prática com foco nas demandas reais do mercado. O Senac é parceiro histórico do turismo brasileiro na formação de profissionais que fazem o setor acontecer”, explicou.
O assessor também convidou os integrantes do Cetur a conhecer a sede do Senac-DN e suas unidades-modelo, que somam 689 centros de educação profissional e 30 centros universitários em todo o País. “O Senac é a casa de todos que acreditam na educação como instrumento de transformação”, concluiu.
Papel humanizador na era digital
Representando o Sesc-DN, a assessora de Relações Institucionais Ana Márcia Varela falou sobre o papel histórico da instituição na valorização humana e no bem-estar do trabalhador. “Há 80 anos, o Sesc foi criado por empresários que entenderam que cuidar das pessoas é tão importante quanto qualificá-las”, disse. Ela ressaltou que, diante da inteligência artificial e das novas tecnologias, o desafio é manter o foco no humano. “O Sesc complementa a formação técnica ao promover qualidade de vida, saúde, cultura e lazer. Nosso papel é cuidar para que as pessoas tragam valor aos negócios.”

Reforma tributária traz novo modelo para turismo
O consultor tributário da CNC, Gilberto Alvarenga, expôs uma análise técnica dos impactos da reforma tributária no turismo e na hospitalidade, com base na Emenda Constitucional nº 132/2023 e na Lei Complementar nº 214/2025. Ele explicou que a reforma altera a tributação sobre o consumo, substituindo PIS, Cofins, ICMS e ISS pelo novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), ambos inspirados no IVA. “Pouca gente se interessa em saber como isso vai afetar o próprio ramo de negócios, mas essa é uma mudança que vai atingir todo o setor de serviços”, alertou. Alvarenga enfatizou ainda que os novos tributos serão cobrados no destino da operação, e não mais na origem, o que muda a lógica de arrecadação em estados com forte atividade turística.
Regimes específicos para turismo, hotelaria e alimentação
De acordo com a nova legislação, bares, restaurantes, hotéis, parques temáticos e agências de turismo terão regimes específicos de incidência do IBS e da CBS, com reduções de alíquota de até 40% para determinados serviços.
• Hotelaria: inclui hospedagem tradicional e locação de imóveis mobiliados para estadas de até 90 dias; prevê alíquota reduzida e permite apropriação de créditos tributários.
• Agências de turismo: poderão deduzir da base de cálculo os valores repassados a fornecedores e apropriar créditos relativos aos serviços de intermediação.
• Bares e restaurantes: base de cálculo restrita ao fornecimento de alimentos e bebidas preparados no local; gorjetas e valores de entrega por plataformas digitais não integram a base.
Segundo Alvarenga, o objetivo é garantir neutralidade e isonomia entre diferentes modalidades de operação turística e de hospedagem, incluindo plataformas digitais de locação temporária.
Novidades: cadastro imobiliário e sistema tax free
Entre as inovações, ele salientou o Cadastro Imobiliário Brasileiro (CIB), que dará identificação única a imóveis sujeitos ao IBS e à CBS, com implantação prevista até 2027. Outro avanço é o sistema de “tax free”, que permitirá devolver tributos pagos por turistas estrangeiros em compras no Brasil. “Esse instrumento é fundamental para tornar o País mais competitivo como destino turístico, incentivando o consumo e ampliando a permanência dos visitantes estrangeiros”, disse, citando o Decreto nº 49.841/2025 do Estado do Rio de Janeiro como exemplo de regulamentação em nível estadual.
Transição até 2033
A migração ao novo modelo será gradual: 2026–2027 com alíquotas simbólicas e testes; 2028–2032 com substituição progressiva dos tributos antigos; e plena vigência do modelo dual CBS/IBS em 2033. “A reforma traz desafios, mas também oportunidades para simplificar o sistema, reduzir custos e aumentar a transparência fiscal no turismo”, avaliou.
Vai Turismo inaugura nova fase de inteligência e governança
O consultor da GKS Cássio Garkalns apresentou o Novo Painel Vai Turismo, desenvolvido pela CNC e pelo Cetur, que consolida dados sobre políticas públicas, indicadores econômicos e ações estaduais voltadas ao turismo. A iniciativa marca a retomada dos “círculos virtuosos” do programa Vai Turismo – Inteligência Competitiva para o Turismo do Brasil, iniciado em 2021. “O painel traduz inteligência de mercado em lógica acessível e transparente, mostrando o que foi previsto, o que está sendo implementado e onde há espaço para novas ações”, explicou.
Em seguida, o consultor da GKS Consultoria Enzo Arns detalhou as bases técnicas do sistema, que utiliza fontes oficiais como IBGE, Fecomércio, Cadastur e Mapa do Turismo Brasileiro. Segundo ele, o painel já mapeou 1.601 projetos em 21 estados, somando R$ 6,8 bilhões em investimentos. “Estamos diante de uma ferramenta viva, colaborativa, que permite enxergar tendências e avaliar impactos de maneira estruturada. O desafio agora é integrar as entidades e transformar dados em inteligência coletiva”, afirmou.
A gerente do Cetur, Aline Lopes, reforçou o convite para que as entidades contribuam com informações setoriais. “Nosso objetivo é dar visibilidade às ações de cada segmento. O painel é um investimento significativo e uma oportunidade de consolidar dados estratégicos para o turismo nacional”, ressaltou.
Integração continental
O presidente da Fedesud, Jaime Guazzini, apresentou a federação, que reúne câmaras nacionais de nove países – Uruguai, Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Venezuela, Bolívia, Peru e Equador – e tem presidência rotativa a cada dois anos. Ele ressaltou a importância de posicionar a América do Sul como destino integrado e competitivo, com projetos de turismo sustentável e inovação.
Entre as iniciativas, destacou o Sistema de Inteligência Turística (Sirta), desenvolvido em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Fonplata, e o programa Sudamérica Conecta, voltado à criação de rotas multidestino. “A América do Sul não é uma soma de destinos, é um destino em si”, resumiu Guazzini.
Segurança turística entra na pauta nacional
O presidente da Associação Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Turismo (Anseditur), Ítalo Mendes, defendeu a criação de um Sistema Nacional de Segurança Turística com indicadores e protocolos integrados. “A segurança é um fator determinante na escolha de destinos e ainda é tratada de forma reativa no Brasil. Precisamos de planejamento permanente e cooperação entre gestores, forças de segurança e o setor privado”, afirmou.
Ele propôs auditorias de vulnerabilidade em serviços turísticos, planos de prevenção e campanhas educativas, além de alinhamento com o Código Internacional de Proteção aos Turistas, da ONU Turismo. “A segurança turística é base do turismo responsável. É hora de tratá-la como prioridade permanente”, concluiu.
IA e produtividade: “não é hype, é hora de agir”
Encerrando o encontro, o consultor de inovação e inteligência artificial Paolo Petrelli ministrou a palestra “IA não é hype – é hora de agir”, mostrando aplicações práticas da tecnologia no turismo. Ele defendeu que a IA deve ser vista como competência de negócio, e não apenas como ferramenta tecnológica.
Com exemplos de automação e personalização, Petrelli demonstrou como tarefas que antes levavam semanas podem ser executadas em minutos com o uso de ferramentas como ChatGPT, Claude, Perplexity, Leonardo.ai, Runway e Canva. “Sessenta e seis por cento das empresas brasileiras já registram retorno positivo com IA, com ganhos médios de 65% em tempo e 40% em custos”, enfatizou. Ele defendeu o uso de fluxos integrados e orquestrações de baixo código para ampliar produtividade e resultados.