Caminhos do Brasil debate o gargalo de crédito para pequenas e médias empresas

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A 3ª edição do programa Caminhos do Brasil promoveu um debate, nesta quarta-feira (10), envolvendo os obstáculos e soluções para o gargalo de crédito a pequenas e médias empresas no País.

A abertura do debate destacou a importância das pequenas e médias empresas (PMEs) para a economia brasileira e a necessidade urgente de resolver o problema do acesso ao crédito.

O encontro virtual ressaltou a desproporção entre a contribuição das PMEs para o emprego e o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, em contraste com sua baixa participação na carteira de crédito do sistema financeiro.

Jorge Gonçalves Filho, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), falou sobre a questão da inadimplência e os altos custos de crédito enfrentados pelas PMEs. “Temos hoje uma questão de inadimplência na pequena empresa em torno de 5,8%, muito próximo da micro, que é de 4,8%, a média registra 2,6% e a grande é de apenas 0,4% de inadimplência”.

Soluções propostas

Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, apontou a falta de garantias e a estrutura financeira inadequada das PMEs como obstáculos adicionais no acesso ao crédito. “O pequeno empresário, ele não possui garantias. […] Isso ocasiona que o crédito chegue menos aos pequenos. […] Hoje, o crédito olha só para alguns, ele deixa alguns de lado, e nós não queremos deixar ninguém de lado.”

Maria Fernanda Coelho, diretora de Crédito Digital para MPMEs do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ressaltou a importância da digitalização e dos fundos garantidores para facilitar o acesso ao crédito. “O BNDES opera por meio de 80 agentes financeiros que são parceiros. […] Isso nos permitiu chegar a 93% dos municípios, com uma carteira de mais de 450 mil clientes e um volume de recursos no valor de R$ 145 bilhões em créditos para esse setor.”

Iniciativas governamentais

Guilherme Mello explicou a estratégia do governo para criar uma “escadinha de crédito”, desde pequenos empreendedores informais até médios empresários, com taxas de juros mais baixas e maiores garantias. “Cada público vai ter uma linha de crédito com garantias, com condições evidentemente diferentes uma da outra, mas adequada ao seu nível de desenvolvimento empresarial.”

Maria Fernanda Coelho complementou destacando os avanços na digitalização dos processos de crédito do BNDES, que agilizam o acesso e reduzem custos. “O processo, hoje, ele se dá de forma automatizada on-line com essas instituições parceiras. […] Isso permite que a grande dificuldade desse micro e pequeno empresário, que é exatamente trazer uma garantia que o banco pedia, seja solucionada por meio dos fundos garantidores.”

Impacto do programa Desenrola e educação financeira

Foi trazida à discussão a questão da inadimplência entre as PMEs e os resultados esperados do programa Desenrola, do governo federal. Jorge Gonçalves Filho enfatizou a importância da educação financeira para evitar a reincidência de inadimplência.

“Nós vamos ter o acompanhamento para que esse micro, esse meio que amanhã vai ser pequeno, pois médio, ele se desenvolva. […] Eu acho que esse é um caminho importante, não é só acertar a dívida para que ele não fique abrindo empresa em nome de conhecidos de outros para pegar novo crédito, mas que ele aprenda realmente a conduzir seu negócio.”

Avanços na digitalização

Maria Fernanda detalhou como a digitalização está transformando o acesso ao crédito pelas PMEs e anunciou novas iniciativas, como o cartão BNDES e um novo fundo garantidor em parceria com o Sebrae.

“Esses dois novos instrumentos que o BNDES está, por meio da sua equipe, pensando, inovando para esse setor, eles vão conseguir cada vez mais que a gente trabalhe com o crédito, para que esse crédito, à micro e pequena empresa, ele tenha um potencial de dinamismo ali no território que é muito grande.”

Desafios fiscais e taxa de juros

Guilherme Mello falou sobre o desafio de equilibrar os juros elevados e a necessidade de crédito acessível para PMEs, destacando a importância de reduzir a taxa Selic de forma sustentável.

“Hoje, nós estamos com a taxa de juros, a Selic, em 10,5%, bastante acima desse 8, que poderia ser uma taxa neutra. Então, há espaço para reduzir a taxa de juros a um patamar mais próximo do neutro.”

Jorge Gonçalves Filho, do IDV, discutiu a concorrência desleal enfrentada pelos varejistas brasileiros, por conta da importação de produtos sem a devida tributação. Ele ressaltou a importância de medidas como a taxa sobre compras internacionais para garantir uma concorrência justa.

O evento Caminhos do Brasil trouxe à tona importantes discussões sobre os desafios e as soluções para o gargalo de crédito enfrentado pelas PMEs no Brasil. As iniciativas governamentais e do BNDES, combinadas com a digitalização e os programas de educação financeira, mostram um caminho promissor para ampliar o acesso ao crédito e fortalecer o setor, fundamental para a economia brasileira.

O debate destacou a necessidade de uma abordagem integrada, envolvendo políticas públicas, instrumentos financeiros inovadores e suporte educacional, para garantir que as PMEs possam prosperar e contribuir ainda mais para o desenvolvimento econômico do País.

O encontro virtual sobre a criação de um ambiente mais favorável para o crescimento dos negócios contou com as presenças de Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda; Jorge Gonçalves Filho, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV); e Maria Fernanda Coelho, diretora de Crédito Digital para MPMEs do BNDES. A mediação foi realizada por Álvaro Campos,jornalista do Valor Econômico, e Glauce Cavalcanti, jornalista de O Globo.   

Caminhos do Brasil é uma iniciativa dos jornais O Globo e Valor Econômico e da Rádio CBN, com patrocínio do Sistema Comércio, por meio da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), do Sesc, do Senac e de suas Federações.

Assista a íntegra do debate:

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