Intenção de Consumo das Famílias (ICF) e Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurados pela CNC em novembro, evidenciam consolidação da data em meio à desaceleração das vendas ao longo de 2025
Em novembro de Black Friday, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) registrou crescimento expressivo de 3,1% em relação a outubro, atingindo 99,2 pontos, enquanto a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) avançou 0,5%, alcançando 101,6 pontos. Esses números representam os maiores patamares desde agosto para ambos os indicadores, sinalizando que a data promocional importada dos Estados Unidos conseguiu desacelerar, ainda que momentaneamente, uma trajetória de pessimismo que marcou boa parte de 2025.
Os 99,2 pontos da confiança média de empresários (Icec) ainda são considerados como pessimismo por estar abaixo dos 100 pontos. Este quadro pode ser justificado pelo receio de uma possível instabilidade no mercado de trabalho em 2026, além do já consolidado alto patamar da Selic e dos juros no País.
A recuperação mensal possui características sazonais bem determinadas. No caso da ICF, a reversão, após três meses consecutivos de quedas, está fortemente associada ao movimento típico de promoções na Black Friday, além das compras voltadas para as festas de fim de ano.
“O avanço na confiança visto em novembro é pontual, vinculado à Black Friday, e não reverte, por si só, o quadro de desaceleração observado ao longo do ano atual”, pondera o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros. “Ainda que discreto e pontual em meio a um ano de retração dos índices, este alinhamento entre a expectativa de consumo e a preparação da oferta comercial para o mês de novembro demonstra que, mesmo em cenário econômico desafiador, a data promocional consegue mobilizar tanto o mercado quanto os consumidores”, complementa Tadros.
A divergência entre recuperação mensal e retração anual
Ainda que ambos os públicos pesquisados demonstrem um otimismo moderado, o Icec apresentou queda de 8,1% na comparação de novembro de 2025 com novembro de 2024, enquanto ICF registrou retração de 0,8% no mesmo comparativo. Essa divergência temporal evidencia que o pessimismo acumulado ao longo de 2025 não foi revertido pela expectativa pontualmente positiva da Black Friday, mas apenas momentaneamente amenizado.
Um exemplo disso é o componente Momento para Compra de Bens Duráveis, da ICF, que apresentou crescimento mensal de 3,1%, correspondendo à expectativa do setor de vendas de bens duráveis do Icec, que subiu 2,9% e chegou aos 103,0 pontos – patamar de otimismo. Essa convergência no mês de novembro sugere que a Black Friday consegue canalizar tanto a disposição de compra dos consumidores quanto a preparação comercial dos varejistas, criando um ambiente propício para o comércio desse tipo de mercadoria (eletroeletrônicos, móveis e decoração, ferramentas de audiovisual e material de construção). No entanto, a sazonalidade é evidente, pois a mesma categoria de itens acumula uma queda de 17,2% na expectativa de vendas dos comerciantes desde novembro de 2024 até novembro de 2025.
Efeitos da taxa de juros
A análise de segmentos comerciais específicos revela outras nuances importantes do ano brasileiro. Empresários de supermercados, farmácias e lojas de cosméticos demonstraram o maior avanço mensal na confiança (+4,5%), alcançando 95,0 pontos, porém ainda em terreno pessimista — 6,7% menos confiantes do que em novembro do ano passado.
Já o setor de roupas, calçados, tecidos e acessórios voltou ao campo otimista, com 100,7 pontos e crescimento de 2,0% no mês. O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, comenta: “Essas variações setoriais demonstram que a sensibilidade aos fatores macroeconômicos não é uniforme, com produtos de consumo mais imediato e essencial mostrando maior resiliência que itens de maior valor agregado, enquanto compras que dependem de parcelamento ficam para trás na lista de prioridades de uma população endividada”.
Do ponto de vista empresarial, a taxa Selic ainda elevada e os altos índices de endividamento continuam limitando a expectativa de consumo e de investimentos. As intenções de investimento, embora tenham voltado à zona de otimismo com 100,1 pontos e alta de 0,7% no mês, ainda registram queda de 3,4% em relação ao ano anterior. Esse cenário sugere que os empresários permanecem cautelosos quanto ao comprometimento de capital em expansão, mesmo diante da recuperação mensal projetada para novembro.
Crescimento estimado em 2,4%
Levando em conta as expectativas de comerciantes e a confiança dos consumidores, a Black Friday de 2025 deve movimentar R$ 5,4 bilhões, 2,4% a mais do que o registrado em 2024, e ser um ponto de otimismo moderado em meio a uma desaceleração do varejo ao longo do ano.
Para os empresários do comércio, é uma oportunidade de recuperar possíveis prejuízos acumulados ao longo do ano e testar a receptividade do mercado a diferentes estratégias comerciais. Para as famílias brasileiras, é momento de pesquisar as melhores promoções para não agravar os níveis de endividamento e inadimplência, na tentativa de preservar os costumes de troca de presentes no fim de ano.