Presidentes de Câmaras de Comércio destacam papel estratégico do bloco como potência integradora regional em um contexto de instabilidade internacional
Os principais representantes do setor privado do Mercosul reuniram-se nesta quinta-feira (6), no Rio de Janeiro, para debater as expectativas empresariais diante do cenário de transformação profunda do comércio internacional. A V Conferência Internacional de Comércio e Serviços do Mercosul (CI25), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), repercutiu o anúncio da data de assinatura do acordo de livre comércio entre o bloco sul-americano e a União Europeia, marcada para o dia 20 de dezembro após reunião na COP30, em Belém.
O painel Expectativas do Setor Privado para o Cenário Latino-Americano e Global reuniu os presidentes das Câmaras de Comércio de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia.
José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, abriu o painel com uma resposta direta ao dilema das tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil e outros emergentes. “Só tem uma maneira de resolver tudo isso: diversificando os mercados e montando estrutura de segurança jurídica, democracia e respeito à livre-iniciativa”, afirmou Tadros.
O presidente da CNC sugeriu mudança estratégica na organização das futuras reuniões do bloco. “Precisamos que os encontros do Mercosul sejam realizados nos outros países além de Brasil e Argentina, como Chile, Uruguai e Paraguai, para que todos sintam como funciona o bloco nessas regiões. Isso cria consciência e compromisso”, recomendou Tadros.
Argentina: grandeza do bloco e oportunidade histórica
Natalio Grinman, presidente da Câmara Argentina de Comércio e Serviços (CAC), colocou em perspectiva global a importância do Mercosul, ressaltando números que comprovam seu potencial. “Estamos falando de um bloco de 13 milhões de quilômetros quadrados, 275 milhões de habitantes, representando mais de 82% do PIB do continente sul-americano”, afirmou Grinman.
Para Grinman, o acordo com a União Europeia apresenta-se como o grande catalisador dessa mudança. “A União Europeia com o Mercosul é importante, gera muita expectativa. Não tenho dúvida que vai mudar nossa realidade. Passar de um bloco de 275 milhões de habitantes para uma conexão de 700 milhões será algo grandioso”, pontuou, reforçando a importância de encontros institucionais: “Eventos dessa natureza têm de se repetir para integrarmos cada vez mais o setor privado ao bloco e para que todos conheçam a importância e oportunidade de trabalhar de mãos dadas”.
Bolívia: integração como chave logística
Eduardo Olivo Gamarra, presidente da Câmara Nacional de Comércio da Bolívia (CNC Bolívia), celebrou o novo contexto político de seu país após a eleição do presidente Rodrigo Paz, deixando no passado as duas décadas de política protecionista do governo antecessor. Gamarra destacou que a participação no Mercosul é estratégica para uma nação que não possui acesso direto aos oceanos e suas possibilidades de exportação.
“Para a Bolívia, é muito importante ser parte do Corredor Bioceânico para ser chave da distribuição de produtos no Mercosul. Falta-nos muito pouco para estar internamente conectados com todo o continente”, afirmou Olivo Gamarra. A fala evidencia como a integração regional oferece à Bolívia a possibilidade de se tornar hub logístico crucial para toda a cadeia de suprimentos do bloco.

Chile: imperfeição como oportunidade de aperfeiçoamento
José Pakomio Torres, presidente da Câmara Nacional de Comércio e Serviços do Chile (CNC Chile), trouxe uma perspectiva realista sobre o Mercosul e sua evolução. “Que nos identifiquemos neste Mercosul que parece imperfeito, mas que é uma oportunidade de aperfeiçoar para beneficiar social e economicamente nossos países, pois somos responsáveis pelo crescimento de nossos países”, avaliou Torres.
O empresário chileno projetou expectativas para o cenário global com base na integração aprofundada. “O desafio do acordo com a União Europeia demanda que façamos conversas importantes. É preciso inovar no mundo, e este acordo é a inovação. Essa será a chave para que os intercâmbios entre países dos blocos possam funcionar”, declarou o chileno.
Paraguai: necessidade imperativa de integração
Ricardo dos Santos, presidente da Câmara Nacional de Comércio e Serviços do Paraguai (CNCSP), resumiu a realidade comercial paraguaia enaltecendo os vizinhos: “Vivemos uma necessidade de integração constante ao Mercosul. O Brasil é um grande sócio, a Argentina também tem investidores enormes, o Uruguai, da mesma maneira com o gado e o campo, assim como o Chile é grande comprador de carne paraguaia, e a Bolívia fortalece laços com investimentos diversos. Estar no Mercosul é fundamental para o Paraguai, não teríamos outra maneira”, afirmou Santos.
Uruguai: estabilidade não é suficiente, inovação é obrigatória
Anabela Aldaz, vice-presidente da Câmara de Comércio e Serviços do Uruguai (CCSUy), articulou o papel do setor privado como responsável pela liderança institucional. “Acredito que o setor privado tem um chamado que não pode ignorar. Somos líderes nacionais que representam essas empresas pequenas, as médias e as grandes, que precisam deste tipo de instituição como o Mercosul. O bloco precisa se fortalecer com conexões como o evento de hoje. E abrir novos mercados é parte de nosso trabalho”, declarou Anabela.
A vice-presidente uruguaia, porém, alertou que a histórica estabilidade institucional do país não é mais suficiente em um mundo em transformação. “Temos que nos adaptar e ser proativos. O Uruguai é um país pequeno, mas que historicamente se caracteriza por sua estabilidade jurídica, processos longevos e participação ativa nos blocos comerciais. Entretanto, só isso não será suficiente daqui para frente. Precisamos nos fortalecer e inovar sempre”, afirmou a representante uruguaia.
O painel evidenciou convergência clara entre os líderes empresariais: o Mercosul não é perfeito, mas é fundamental para todos os seus membros. A diversificação de mercados, a inovação institucional e a maior participação do setor privado nas negociações são algumas das expectativas dos sul-americanos para a futura aliança comercial com a União Europeia.
A V Conferência Internacional de Comércio e Serviços do Mercosul é organizada pelo Conselho de Câmaras de Comércio do Mercosul (CCCM), criado em 1992 e que atua como principal foro institucional do setor privado no bloco. O evento ocorre durante a Presidência Pro Tempore brasileira do Mercosul, reforçando o papel do Brasil na articulação regional durante momento crítico para a integração.
Clique aqui e veja a íntegra do evento.
