Senado realiza primeira reunião do Grupo Parlamentar de Relacionamento com o bloco em 2025.
Foi realizada nesta quarta-feira (24), no Senado Federal, a primeira audiência pública de 2025 do Grupo Parlamentar de Relacionamento com o BRICS. O senador Irajá Abreu (PSD-TO) presidiu o encontro, que reuniu parlamentares, representantes de ministérios, órgãos de governo e entidades empresariais.
Durante os debates, os participantes destacaram que o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e países associados se consolida como plataforma estratégica de cooperação técnica, comercial e operacional, com impactos diretos para agronegócio, logística, saúde, biotecnologia e comércio exterior.
Agropecuária e mercado de carbono
O coordenador do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Pedro Neto, ressaltou a necessidade de metodologias claras e certificações acessíveis para dar credibilidade internacional aos créditos de carbono gerados pelo setor agropecuário brasileiro. Ele defendeu o BRICS como espaço central para ampliar o comércio sustentável.
O assessor do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Arthur Boaretto, lembrou que o Brasil instituiu em 2024 o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE); e que firmou com o BRICS, em 2025, um memorando de entendimentos com foco em transparência na contabilidade de carbono e na prevenção de barreiras comerciais disfarçadas.
Logística e infraestrutura
O superintendente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ian Ramalho, apresentou o Projeto da Hidrovia do Arco Norte, voltado à exportação pela região amazônica, em parceria com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Já o superintendente da agência, Eduardo Queiroz, destacou que o Brasil possui potencial de navegação fluvial três vezes maior que o atualmente explorado, ressaltando que esse modal é sustentável e competitivo, mas demanda investimentos.
Saúde, inovação e cooperação internacional
A senadora Dra. Eudócia (PL-AL) parabenizou a Rússia por avanços em vacinas contra o câncer e destacou experiências chinesas em “hospitais inteligentes”, defendendo maior integração em saúde e biotecnologia no âmbito do bloco. O embaixador da Etiópia, Leulseged Abebe, reforçou que o BRICS deve ser espaço para soluções concretas em clima, investimentos e comércio.
Impacto do tarifaço dos EUA
O diretor do MDIC, Erlon Brandão, alertou para os efeitos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos. Embora o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) seja relativamente pequeno (0,2%), setores como café, carnes, açúcar, químicos e frutas industrializadas sofreram diretamente, atingindo estados como Ceará e Alagoas.
Para a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a audiência pública reforçou a necessidade de o Brasil aproveitar o BRICS como alternativa estratégica para ampliar mercados e reduzir a dependência de economias tradicionais, como os Estados Unidos e a União Europeia.
Além disso, a entidade defende a harmonização de padrões e certificações internacionais, de forma a garantir previsibilidade e segurança para empresas brasileiras; investimentos em infraestrutura logística, especialmente em hidrovias e portos, para baratear custos de exportação e ampliar a competitividade; diversificação de parcerias comerciais, com foco na Ásia e no Sul Global, reduzindo vulnerabilidades a barreiras comerciais impostas por países desenvolvidos; e participação ativa do setor privado nas discussões do bloco, visando garantir que as demandas das empresas sejam incorporadas na formulação de políticas.
“A ascensão do BRICS é uma ‘janela de oportunidade’ para reposicionar o Brasil no comércio internacional, fortalecendo tanto as exportações quanto o mercado interno”, destacou a diretora de Relações Institucionais da CNC, Nara de Deus.
Foto: Carlos Moura/Agência Senado