Nesta terça-feira (27), uma semana após a posse de Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos, temas como a crise financeira internacional e a busca de soluções ambientalmente sustentáveis para o planeta ocuparão o centro das discussões da nona edição do Fórum Social Mundial (FSM). Cerca de 100 mil pessoas de aproximadamente 150 países são esperadas na cidade de Belém, no Pará – um dos nove estados brasileiros que compõem a Amazônia Legal.
Nesta terça-feira (27), uma semana após a posse de Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos, temas como a crise financeira internacional e a busca de soluções ambientalmente sustentáveis para o planeta ocuparão o centro das discussões da nona edição do Fórum Social Mundial (FSM). Cerca de 100 mil pessoas de aproximadamente 150 países são esperadas na cidade de Belém, no Pará – um dos nove estados brasileiros que compõem a Amazônia Legal. Os outros estados são: Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.
Até o dia 1º de fevereiro, autoridades e representantes de organizações e de movimentos sociais do mundo todo se revezarão em mais de 2.600 atividades, como seminários, cursos, oficinas e eventos culturais. Além de chefes de Estado e governadores dos territórios que compõem a Floresta Amazônica – estão confirmadas as presenças dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Venezuela, Hugo Chávez; da Bolívia, Evo Morales; do Equador, Rafael Correa; e do Paraguai, Fernando Lugo – o FSM reunirá parlamentares da região com o objetivo de discutir temas do interesse da população dos países.
Em entrevista à Rádio Senado na última semana, o senador José Nery (PSOL-PA), que participará dos debates, disse esperar que das discussões resultem alternativas para minimizar os efeitos da crise econômica sobre os trabalhadores, em tempos de recorde nos índices de desemprego.
Já a senadora Marina Silva (PT-AC), uma das presenças destacadas nas atividades relacionadas ao meio ambiente, afirmou que, apesar das críticas de que os resultados práticos dos fóruns sociais seriam praticamente inexistentes, os avanços são significativos. Para ela, existe, sim, uma construção, mas uma “construção processual”.
– Temos que pensar o Fórum Social como um espaço de discussão, que traz a experiência dos diferentes movimentos que aqui comparecem e, ao mesmo tempo, um espaço de interlocução entre esses diferentes olhares. O resultado será o processo, que já ganha corpo na sociedade em vários segmentos. Não há como se imaginar que um espaço como esse possa sair com uma plataforma concreta, pragmática – disse.
Prova dessa “construção processual”, na visão da senadora, foi a capacidade de fóruns anteriores de anteverem as crises econômica e ambiental que pautam o fórum atual.
A abertura oficial do Fórum Social Mundial acontecerá às 15h da terça-feira, com uma caminhada que deverá reunir todos os participantes. Desde o fim de semana, porém, Belém já é palco de diversos debates nos chamados fóruns temáticos paralelos. Nesta segunda-feira (26), a educação pública estará em destaque nos debates do Fórum Mundial da Educação.
Histórico
O Fórum Social Mundial surgiu em 2001, numa tentativa das representações de esquerda de fazer um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que acontece todos os anos em Davos, na Suíça. O Brasil abrigou as três primeiras edições do evento, que aconteceram em Porto Alegre. Em 2004, o Fórum foi transferido para a Índia, e, em 2005, retornou à capital gaúcha. Em 2006, as atividades foram realizadas simultaneamente em Mali, no Paquistão e na Venezuela. No ano seguinte, o Quênia foi escolhido como sede do evento.
Em 2008, cerca de 800 atividades aconteceram em 80 países no Dia de Ação de Mobilização Global, em 26 de janeiro.
ENTENDA O ASSUNTO
Crise Financeira Internacional
Desencadeada nos EUA, crise espalha-se no mundo globalizado
A crise financeira internacional foi desencadeada nos Estados Unidos, a partir da expansão do mercado imobiliário daquele país, iniciada em 2001, da fartura do crédito e da decisão do Federal Reserve (FED) – o Banco Central americano – de diminuir os juros e incentivar empréstimos financeiros para fazer consumidores e empresas gastarem mais. Esse cenário aumentou a especulação financeira, e consumidores passaram a comprar casas não somente para ter um imóvel, mas também para fazer investimentos, revendendo a moradia a preços mais altos, tudo com dinheiro de empréstimos e crédito de bancos, empresas hipotecárias e financeiras.
Surgiram, então, os chamados subprimes, créditos de alto risco e baixa qualidade, destinados a uma fatia da população com pouco rendimento e situação econômica instável. A única garantia exigida nesses empréstimos seria o próprio imóvel. Tal segmento de crédito era exclusivo dos Estados Unidos. Segundo analistas econômicos, o mercado norte-americano continuava tão empolgado com o aumento do consumo que as instituições financeiras passaram a adquirir das empresas hipotecárias os créditos dos subprimes, chamados de “créditos podres”.
Quando os subprimes mostraram sua cara ao mercado, teve início a crise nos Estados Unidos. Esses clientes não pagaram suas dívidas, prejudicando empresas e instituições financeiras que emprestaram dinheiro e adquiriram os chamados créditos podres, gerando uma bola de neve de falências e concordatas até mesmo de grandes e tradicionais bancos norte-americanos, como o Lehman Brothers.
Em 2006, o preço dos imóveis nos EUA começou a cair e os juros altos afastaram novas possibilidades de crédito, deixando o mercado imobiliário desvalorizado e o crédito escasso. Com esse novo cenário, o dinheiro em circulação nos EUA diminuiu e os bancos, financeiras e empresas hipotecárias começaram a ser vendidos ou anunciar falência. Bancos como Citigroup, UBS e Bear Stearns tiveram perdas bilionárias e duas das maiores empresas hipotecárias dos EUA, a Fannie Mae e a Freddie Mac, foram outras vítimas da crise, já que detinham quase a metade dos US$ 12 trilhões em hipotecas no país.
Antes dessa crise, os créditos originados nos EUA eram convertidos facilmente em ativos que rendiam juros para investidores na Europa e em outras partes do planeta, características do mundo globalizado. Por esse motivo, falências, dívidas, crise de confiança e pessimismo no mercado norte-americano registrados em 2008 influenciaram e atingiram os mercados europeus e de outros países, com maior ou menor intensidade.
Fórum Social Mundial
Evento debate anualmente problemas da atualidade
O Fórum Social Mundial (FSM) é um evento organizado anualmente por entidades representativas de movimentos sociais, em nível mundial, com o objetivo de debater os problemas da atualidade. De inspiração esquerdista, o FSM opõe-se à globalização, ao neoliberalismo, ao imperialismo e a qualquer forma de domínio do mundo pelo capital, conforme definem seus organizadores.
O projeto do FSM é ser um espaço democrático para debater idéias, refletir sobre os problemas sociais a partir da troca de experiências entre os participantes de vários países e formular propostas. Sua articulação é feita por organizações não- governamentais (ONGs), movimentos sociais e entidades da sociedade civil, caracterizando-se por abrigar a pluralidade de idéias e sendo, portanto, não governamental e apartidário.
Inicialmente proposto para se contrapor ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o FSM realizou seus primeiros três encontros em Porto Alegre (RS), a partir de 2001 até 2003. Posteriormente, decidiu-se que seria itinerante, devendo ser sediado em cidades diferentes a cada ano. Em 2004, o FSM foi realizado em Mumbai (Bombaim), na Índia, e em 2005 voltou a ser feito em Porto Alegre. Em 2006, foi promovido concomitantemente em Caracas (Venezuela), Karachi (Paquistão) e Bamako (Mali). A sétima edição do FSM, em 2007, foi em Nairóbi (Quênia).
Em 2008, não houve um evento nos moldes anteriores, e sim uma Semana de Mobilização Global que culminou no Dia de Ação Global, no qual entidades e movimentos sociais ligados ao FSM realizaram atividades em vários países. Em 2009, o evento foi programado para ser realizado em Belém (PA).
Para esse evento, os organizadores do FSM definiram dez objetivos de ação dos participantes:
1. Pela construção de um mundo de paz, justiça, ética e respeito pelas espiritualidades diversas, livre de armas, especialmente as nucleares;
2. Pela libertação do mundo do domínio do capital, das multinacionais, da dominação imperialista patriarcal, colonial e neocolonial e de sistemas desiguais de comércio, com cancelamento da dívida dos países empobrecidos;
3. Pelo acesso universal e sustentável aos bens comuns da humanidade e da natureza, pela preservação de nosso planeta e seus recursos, especialmente da água, das florestas e fontes renováveis de energia;
4. Pela democratização e descolonização do conhecimento, da cultura e da comunicação, pela criação de um sistema compartilhado de conhecimento e saberes, com o desmantelamento dos direitos de propriedade intelectual;
5. Pela dignidade, diversidade, garantia da igualdade de gênero, raça, etnia, geração, orientação sexual e eliminação de todas as formas de discriminação e castas (discriminação baseada na descendência);
6. Pela garantia (ao longo da vida de todas as pessoas) dos direitos econômicos, sociais, humanos, culturais e ambientais, especialmente os direitos à saúde, educação, habitação, emprego, trabalho digno, comunicação e alimentação (com garantia de segurança e soberania alimentar);
7. Pela construção de uma ordem mundial baseada na soberania, na autodeterminação e nos direitos dos povos, inclusive das minorias e dos migrantes;
8. Pela construção de uma economia centrada em todos os povos, democratizada, emancipatória, sustentável e solidária com comércio ético e justo;
9. Pela ampliação e construção de estruturas e instituições, políticas e econômicas – locais, nacionais e globais, – realmente democráticas, com a participação da população nas decisões e controle dos assuntos e recursos públicos.
10. Pela defesa da natureza (amazônica e outros ecossistemas) como fonte de vida para o Planeta Terra e dos povos originários do mundo (indígenas, afro-descendentes, tribais, ribeirinhos) que exigem seus territórios, línguas, culturas, identidades, justiça ambiental, espiritualidade e bom viver. (Helena Daltro Pontual)
Agência Senado, 26 de janeiro de 2009.