Governo e empresários, visões opostas

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Gazeta Mercantil   Editoria: Nacional  Página: A-2


Estudo do Itamaraty mostra que o número de acordos bilaterais firmados por países emergentes é pequeno. O Brasil não está atrás de países emergentes, como China e Índia, na corrida por negociações comerciais bilaterais, que é disputada enquanto a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) não desata. Estudo elaborado por técnicos do Itamaraty e obtido com exclusividade por este jornal, é usado para subsidiar as autoridades brasileiras no debate a respeito da política comercial do País.



Gazeta Mercantil   Editoria: Nacional  Página: A-2


Estudo do Itamaraty mostra que o número de acordos bilaterais firmados por países emergentes é pequeno. O Brasil não está atrás de países emergentes, como China e Índia, na corrida por negociações comerciais bilaterais, que é disputada enquanto a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) não desata. Estudo elaborado por técnicos do Itamaraty e obtido com exclusividade por este jornal, é usado para subsidiar as autoridades brasileiras no debate a respeito da política comercial do País.


É uma resposta a uma parcela do empresariado e à oposição, que acusam a política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva de ser ideológica e pouco pragmática.


Segundo o levantamento, a Índia só tem acordos de livre comércio com Sri Lanka, Tailândia e Cingapura. A China nem isso. Assinou um com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean, formada por Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã), mas só entrará em vigor em 2010.


Muitos dos acordos que esses dois países negociam, o Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela – também já tenta assinar. Entre eles, com a União Européia, a União Aduaneira Sul-Africana (África do Sul, Botsuana, Namíbia e Suazilândia) e o Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuweit e Omã).


Diferentemente de Índia e China, o Mercosul não começou negociação com o Japão. Segundo fontes da chancelaria brasileira, o Japão tem receio do potencial agrícola do bloco sul-americano. “O Brasil está bem posicionado em relação à China e à Índia porque negociar acordos comerciais já era uma tradição na região”, diz fonte do governo.


Técnicos do Itamaraty alegam que o Mercosul conseguiu consolidar acordos de livre comércio com os demais países da América do Sul. Falta agora fechar parceria com o México.


Antes, dizem os diplomatas, os integrantes do bloco tinham receio de assinar um acordo de livre comércio com os mexicanos por causa do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta).


Temia-se que empresas norte-americanas se instalassem no México para conseguir vender seus produtos com maior facilidade ao Mercosul. Atualmente, entretanto, os mexicanos travam negociações, pois temem que seu déficit comercial com os países sul-americanos aumente.


Acordos continentais


Segundo diplomatas brasileiros, o objetivo do Mercosul é obter acordos de livre comércio com países da África e da Ásia, onde as exportações do País estão crescendo com maior velocidade – excluindo as vendas para a América Latina.


Nesse caso, além da quantidade, os acordos terão, se assinados, qualidade. No ano passado, os embarques em direção aos países africanos cresceram 26,0%, para US$ 7,44 bilhões. Já as vendas para o restante da Ásia totalizaram US$ 20,79 bilhões, 13,4% a mais do que o registrado em 2005.


As negociações do Mercosul com Israel e com o Conselho de Cooperação do Golfo estão mais avançadas. No ano passado, as exportações brasileiras para o Oriente Médio somaram US$ 5,74 bilhões, alta de 35,7% em relação a 2005.


O governo também tenta negociar com a União Européia, principal cliente do País. Mas as conversas caminham em marcha lenta, pois as partes esperam o desfecho da Rodada Doha da OMC. As vendas para os europeus foram de US$ 30,37 bilhões em 2006 – crescimento de 16% em relação ao comercializado em 2005.


Terra de oportunidades


Os críticos da política externa do governo Lula dizem que o País renuncia a grandes oportunidades de negócios ao não ter um acordo de livre comércio com os EUA. E que a competitividade de outros países emergentes que contam com tal acordo, como México e Coréia do Sul, é maior.


Os Estados Unidos são o segundo maior mercado para os produtos brasileiros. Ano passado, o país comprou US$ 24,68 bilhões dos brasileiros, 9,8% a mais do que o verificado no anterior.


As negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) fracassaram porque os EUA não concordaram em abrir seus mercados, e o Brasil não aceitou as normas defendidas pelos norte-americanos, como regras para propriedade intelectual e serviços.


Risco de isolamento


“Os produtos dos outros podem ter maior acesso do que os nossos na nossa própria região. O Peru, por exemplo, fez maiores concessões aos EUA do que ao Mercosul”, diz o embaixador Sérgio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, para quem a questão não é o número de acordos e o volume de comércio que eles representam.”O Brasil negocia, negocia e nada”, diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, rebatendo o estudo. “Mantido o ritmo atual, a tendência é o Mercosul ficar isolado.”


Por meio de um informativo sobre comércio exterior, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) engrossa o coro dos descontentes. Critica o que considera falta de eficácia da política comercial do governo. Segundo a entidade, apesar da extensa agenda de negociações comerciais em que o Brasil está envolvido, o País vem enfrentando dificuldades em obter resultados substantivos em termos de novo acesso a mercados em qualquer das frentes negociadoras em que participa.


Qualidade baixa


O vice-presidente da AEB complementa que a qualidade dos acordos de livre comércio assinados pelo Mercosul é baixa, pois os tratados beneficiam poucos produtos brasileiros.


Culpa o Mercosul: “Os negociadores são obrigados a contentar todos os países do bloco.


Assim, a abertura de mercado obtida com o acordo é limitada”, diz Castro.

A chancelaria brasileira reconhece a dificuldade em conseguir entendimentos com os sócios do Mercosul sobre as propostas do bloco em negociações comerciais. Por outro lado, alegam, as ofertas têm maior peso.




 

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