Operações com pessoas físicas seguem se destacando no avanço do crédito

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O saldo das operações totais de crédito com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 4,3 bilhões em agosto, aumento de +1,5% em relação a julho e de +16% em 12 meses. Entre janeiro e agosto, o aumento no estoque de crédito foi de 7,8%, em que cerca de R$ 2,5 bilhões das operações ocorreu com famílias e R$ 1,8, com empresas. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o estoque de crédito chegou a 52,3% em agosto, após quatro meses consecutivos de queda no indicador.

Entre os consumidores, o saldo das operações com recursos livres e direcionados cresceu 1,9% no mês e 10,8% no ano, enquanto entre as empresas o saldo total teve crescimento mensal de 1% e 4,1% acumulados até agosto.

A evolução positiva do crédito total segue conduzida principalmente pelo incremento dos empréstimos e financiamentos às pessoas físicas. Desde o primeiro trimestre deste ano, as operações anualizadas com consumidores superam as operações com empresas, o que não ocorria desde março de 2020. Os maiores incrementos no saldo das operações são observados naquelas consideras de curto prazo (cheque especial e cartões de crédito).

Somente com recursos livres, o estoque de crédito às famílias chegou a R$ 1,4 bilhão, aumento +11% no ano. A expansão acontece na maioria das modalidades, com destaque para cheque especial e cartão de crédito, principalmente parcelado e rotativo.

Entre as empresas, a carteira de crédito livre acumulou R$ 1,1 trilhão, +7% este ano, destacando-se também o cheque especial e o financiamento de veículos.

Com recursos direcionados, a carteira de pessoas jurídicas reduziu-se no acumulado no ano, somou R$ 683 bilhões entre janeiro e agosto, -0,6%.  Apesar do desempenho negativo das operações no crédito direcionado, novamente destacou-se o aumento de 7% no crédito contratado pelo Pronampe, inseridos em “outros créditos direcionados” às pessoas jurídicas. O financiamento imobiliário também cresce no ano para empresas, indicando que elas estão aproveitando o momento de taxas de juros ainda relativamente atrativas para investir em ativos fixos ou imobilizados.

Ainda no estoque de crédito, no corte regional, o saldo das operações mostra maior crescimento anual nas regiões Norte (+8,7%) e Nordeste (+4,5). Novamente, os recursos livres aos consumidores despontam nas operações este ano; não à toa, essas regiões foram aquelas que receberam os maiores volumes dispensados do Auxílio Emergencial.

Além do estoque de crédito, os desembolsos ou concessões de novos recursos às pessoas físicas e jurídicas também aumentaram +2,2% em agosto, na média diária, descartados os efeitos sazonais.

A sequência de desempenho positivo das contratações líquidas/concessões de crédito novo levou o indicador do Bacen de endividamento dos consumidores com o SFN a alcançar a máxima histórica de 59,9% do total de famílias no País, em junho, último dado disponível. Retirado o crédito habitacional, o endividamento igualmente chegou a uma taxa recorde: 37%.

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra resultado alinhado e a mesma tendência: 72,9% das famílias brasileiras chegaram a agosto endividadas, a maior proporção em 11 anos, e com tendência de aumento.

Mesmo com a evolução crescente do endividamento entre os consumidores e o maior comprometimento da renda familiar média (30,9%), corroborada pelos dados da maior contratação liquida de crédito, a inadimplência das pessoas físicas novamente ficou estável em agosto, segundo o Banco Central. Na comparação com agosto de 2020, a inadimplência está inclusive menor: a insolvência acima de 90 dias no crédito com recursos livres caiu 0,4 ponto percentual.

No entanto, em algumas modalidades, a inadimplência acima de 90 dias vem crescendo, como no caso do cartão de crédito, especialmente na modalidade do crédito rotativo, em que o indicador chegou ao maior nível desde janeiro de 2021 (30%).

Embora a inadimplência apresente dinâmica favorável, o custo dos empréstimos vem crescendo este ano. O indicador do custo do crédito fechou em agosto 1 ponto percentual acima do dado de dezembro.

O incremento da Selic, a maior demanda por crédito com foco em algumas modalidades (cheque especial, cartão de crédito e aquisição de veículos e outros bens duráveis), além de medidas como o recente aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), acirram o cenário para o custo do crédito e a inadimplência.

Nas operações de crédito com recursos livres, a taxa média de juros aos consumidores chegou a 41% em agosto, +1 ponto percentual em relação a julho, +3,7 pp em relação a dezembro de 2020, e +1,8 pp comparativamente a agosto do ano passado. O rotativo do cartão de crédito foi a modalidade com maior aumento: 8,3 pp em relação a dezembro, e 26% na comparação anual.

O aumento do IOF é particularmente perigoso para o custo do rotativo do cartão. A cada mês que o consumidor não consegue saldar o valor total da fatura, é como se ele contratasse crédito novo para o mês seguinte, sujeito ao IOF mensal (cuja taxa anual subiu de 3% para 4,08% até dezembro). Ou seja, o valor do saldo em aberto será recalculado todos os meses pela taxa de juros da modalidade, que chegou a 337% ao ano, e ainda pelo IOF com alíquota maior.

Para as empresas, a taxa de juros média no crédito total também é crescente, chegou a 14,4% ao ano em agosto, 16% somente nas linhas com recursos livres e 11% nas com recursos direcionados. Também houve aumento em todas as bases de comparação, como ocorre com os consumidores.

O custo do crédito gradualmente tem se elevado, mas o spread (diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos investimentos) nas linhas com recursos livres mantiveram-se estáveis na passagem mensal, tanto para famílias quanto para empresas. Na comparação com dezembro de 2020, entretanto, o spread em agosto aumentou +0,7 pp para pessoas jurídicas e +0,3 pp para pessoas físicas, segundo os dados do Bacen.

*Análise da Divisão Econômica da CNC – economista Izis Ferreira

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