Turismo esportivo e seu papel no desenvolvimento econômico e social

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Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro *

O turismo esportivo é uma realidade em algumas partes do mundo, e países como Austrália e Nova Zelândia estão entre os que têm aproveitado as suas condições geográficas e climáticas – aliados  a uma extensa cadeia produtiva de profissionais habilitados – para oferecer condições de receber os que estão dispostos a unir sua viagem à prática esportiva, seja ela de aventura, lazer ou de competição, como, por exemplo, uma prova de corrida de rua.

Assim, se a corrida de rua fosse um item agrícola, dela tudo poderia ser aproveitado. Como um bem para saúde, é fundamental em relação aos seus benefícios quando praticada de forma moderada, em curtas e longas distâncias, para iniciantes e veteranos. Mas se correr é um ato fisiologicamente positivo e socialmente aceito, dela, do ponto de vista econômico, ainda se sabe muito pouco no Brasil. E é difícil valorizar o que pouco se conhece.

Pesquisa publicada pelo site runrepeat.com na semana da Maratona do Rio 2019 –que contou com mais de 40 mil inscritos nesta edição – demonstrou que a corrida vem ganhando cada vez mais novos adeptos no País, sobretudo com maior presença feminina, além da presença de uma faixa etária mais madura, entre os 40 a 50 anos de idade. Faixa etária que costuma estar identificada com a ascensão profissional e pessoal, na qual a corrida normalmente ganha outros sentidos, tais como autorrealização, superação e organização mental. E há um dado da pesquisa que chama atenção e nos interessa: temos cada vez mais gente correndo em provas de corridas de rua fora de seus países de origem. Ou seja, o ato de viajar para correr está cada vez mais popular, tanto em competições de longas distâncias, como as da maratona (42 km) e meia maratona (21 km), quanto em corridas mais curtas, como as de 10 km e 5 km.
 
Provas bem organizadas e que passam por locais icônicos, que tenham belezas naturais durante a competição, somam-se às experiencias de antes e depois do evento, e claro que há impactos econômicos que precisam ser levados em conta. Tente visitar Nova York na primeira semana de novembro, por exemplo, e você sentirá no bolso o aumento do preço dos quartos dos hotéis, sobretudo daqueles localizados nas áreas por onde a maratona da cidade acontece. E o mesmo vale para Berlim, Londres, Tóquio e a recém- badalada Jerusalém, sem deixar de mencionar a maratona das maratonas, a da cidade de Boston.

E até o momento  estamos  tratando das corridas de rua, mas há muitos outros eventos esportivos que atraem pessoas não apenas para praticar um esporte, mas também para assisti-lo. São esses os casos dos circuitos de tênis, da Fórmula 1 e das finais das competições das ligas europeias de futebol. E por escrever sobre futebol, ainda não temos um circuito de visitas às suas instalações – que contam suas histórias, os jogadores e as principais conquistas que atraem torcedores de diversos lugares –, tais como encontramos nos clubes argentinos Boca Juniors e River Plate, isso para ficarmos apenas na América do Sul. Apesar disso, é em terras brasileiras que é disputada a maior competição de futebol infantil do mundo, o Go Cup. Esta competição conta com mais de 300 equipes e cinco mil crianças envolvidas, em mais de 20 campos de futebol. Uma boa experiencia que acontece na cidade de Aparecida de Goiânia – GO e atrai, anualmente, mais de 70 mil pessoas em apenas uma semana durante o mês de abril. É algo que pode se espalhar por outras regiões do Brasil.

O turismo é uma solução econômica, e em cidades como o Rio de Janeiro, uma realidade – mesmo que, claro, exista muito a fazer, e ele esteja mais concentrado em iniciativas pontuais do que referendado com números de ordem econômica capazes de subsidiar os agentes públicos. A experiência que a cidade ganhou com a realização, nesta década, dos maiores eventos esportivos do planeta – a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016 – ainda precisa ser mais bem compreendida e estudada.
 
Do ponto de vista arquitetônico e da mobilidade urbana, foram inúmeras intervenções que permitem criar circuitos turísticos de visitação, como Barcelona vem fazendo desde que recebeu as Olímpiadas em 1992. No Rio de Janeiro, conhecer algumas áreas da cidade de bicicleta se tornou uma realidade, mas ainda são raras as iniciativas para viabilizar circuitos turísticos entre o Centro e a Zona Sul, por exemplo, mesmo que sejam inúmeros os postos de compartilhamento de bicicletas espalhadas nestas áreas.

E, não menos importante, há também uma mão de obra qualificada que aprendeu a fazer eventos esportivos na iniciativa privada e no poder público – a partir dos eventos-teste que se sucederam desde que o Rio foi escolhido como sede dos Jogos Pan-Americanos de 2007 –, e isso é capaz de ajudar na recuperação econômica, inclusive a partir de eventos e práticas esportivas de média e pequena dimensão.

Assim, todos os dias turistas visitam as trilhas da Floresta da Tijuca (mais de 140 mil visitas nas quatro principais entradas de trilhas em 2018); surfam de stand up paddle em Copacabana; saltam para fazer voo livre em São Conrado; e visitam as Ilhas Cagarras, mas ainda não temos mais dados para saber quem são eles na questão de gênero, idade e nacionalidade, por exemplo. Há ainda a visitação guiada às Arenas Olímpicas Cariocas, ao Museu da CBF e, claro, ao Maracanã. Estas reforçam nossa identidade para uma cultura esportiva que remonta aos tempos áureos do hipismo e do remo, e que por vezes está esquecida até mesmo para os seus moradores. Como o entorno da Lagoa Rodrigo Freitas, área que apresenta um significativo cluster de clubes de tradição social e competitiva.

Para encerrar, entre 2013 a 2016, a cidade do Rio de Janeiro chancelou 291 corridas de rua, com uma média de pelo menos uma corrida por fim de semana . E se é verdade que turismo e comércio andam juntos, há todo um mercado a eles associado, tais como o das assessorias esportivas espalhadas pelas áreas públicas da cidade, que incentivam diariamente seus alunos a correr e criar metas pessoais para continuar a se exercitar, sem contar com necessária compra de materiais esportivos para essa prática. A corrida de rua pode ajudar o Rio de Janeiro a voltar a crescer na área do desenvolvimento econômico, com reflexos na saúde coletiva, no bem-estar social e, para o que tratamos aqui, no Turismo.

O turismo esportivo é apenas um entre os diferentes e segmentares ramos da extensa cadeia turística, tais como o turismo social, o de saúde e o de negócios, sem deixar de mencionar o turismo de eventos. Assim como de dados ainda persistem. E é possível fazer mais. Sempre é. É como se o esporte estivesse hoje passando por um momento de gentrificação, reconhecimento e valorização, com a cultura esportiva e os seus benefícios associando-se ao bem-estar e ao estilo de vida para uma população mundial que vive mais, tem menos filhos e está preocupada como o futuro do nosso planeta.

Na próxima vez que calçar o tênis para sair às ruas e dar uma corridinha, ou quando pegar a bicicleta para uma pedalada, pense que cada vez mais pessoas ao redor do mundo estão dispostas a fazer do esporte uma boa desculpa para viajar.

*Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro Docente do mestrado profissional em Gestão do Trabalho da Universidade Santa Úrsula (RJ); docente do curso de Condutor de Turismo Esportivo da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec).

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