Série E Agora, Brasil? debate os impactos da escassez hídrica no País

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Em meio à maior escassez hídrica dos últimos 91 anos, ações para atenuar os impactos da falta de chuvas, a redução da demanda de energia, a ampliação da oferta e o desafio para a atividade econômica em 2022, foram temas da quarta edição do ano do encontro E Agora, Brasil?, realizado, em 22 de setembro, pelos jornais O Globo e Valor, com patrocínio da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC), junto com as Federações do Sistema Comércio.

O encontro, mediado por Daniel Rittner, repórter especial do Valor, e Miriam Leitão, colunista do jornal O Globo, teve como convidados Christiano Vieira, secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas; Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (NOS); Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e membro do IPCC da ONU; e Solange Srour, economista-chefe do CreditSuisse Brasil.

Christiano Vieira destacou o sistema de governança que monitora a situação hídrica e energética do País, tomando as medidas necessárias para o enfrentamento dos problemas. “Desde outubro de 2020, medidas efetivas como acionamento antecipado de termelétricas e importação de energia foram tomadas, já na transição do período seco, isso em um momento em que ainda não sabíamos como seria o período úmido”, disse o secretário.

O ministério de Minas e Energia avalia que, com o cenário que o País tem hoje, é possível garantir o fornecimento de 2021 e 2022, mas que as incertezas decorrentes das questões climáticas, acendem o alerta para os anos seguintes. Segundo Vieira, o período úmido de 2020 e 2021 começou atrasado e terminou mais cedo. “Essa estação seca foi a pior dos últimos anos. Nós trabalhamos com uma curva conservadora, e as medidas tomadas garantem o atendimento de energia e de potência para toda a população. Mas é muito importante a participação de toda sociedade nesse processo”, afirmou.

O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (NOS), Luiz Carlos Ciocchi, lembrou que 2020 e 2021 foram marcados pela pandemia e pelo isolamento social, e que, em abril, maio, junho do ano passado, o operador teve uma situação totalmente inusitada em sua história. “Nós tínhamos uma demanda, ou seja, uma carga do sistema, menor do que a geração inflexível que nós temos em termelétricas, nucleares, e por hidrelétricas, que tem que manter sua vazão mínima necessária”, explicou.

O ONS começou, então, a detectar um aumento expressivo na carga, com sinais de que a chuva não chegaria no tempo necessário. “Então, em setembro do ano passado, nós em conjunto com o Comitê de Monitoramento do Setor elétrico, alertamos para essa grande crise hídrica que se aproximava. Nos meses anteriores nós tínhamos uma grande preocupação com a estabilidade elétrica do sistema, porque a demanda era muito baixa. Felizmente, a economia começou a mostrar uma recuperação, entramos em setembro, outubro, porém a situação virou rapidamente”, disse Ciocchi.

O professor do Instituto de Física da USP, Paulo Artaxo, disse que fica óbvio que a mudança climática é um tema que deixou de ser para o futuro, e que está ela traz um impacto socioeconômico direto para o Brasil. “Isso não é uma novidade para ninguém. Desde a Rio-92, ou seja, há 30 anos, que a ciência alerta que ações precisam ser planejadas a longo prazo, levando em conta a mudança climáticas que já estão ocorrendo no nosso planeta. Infelizmente, essas ações foram postergadas, e nós estamos sentindo agora o custo social que isso pode nos trazer”, afirmou Cartaxo.

Solange Srour, economista-chefe do CreditSuisse Brasil, diz que a crise hídrica acontece em um momento peculiar no País, pois a economia do Brasil estava em um processo de recuperação depois de passar por um longo período de pandemia. “A incerteza sobre a energia breca o investimento, trazendo uma restrição ao crescimento”, disse a economista. Para ela, a maior dúvida, neste momento, é como a economia vai se comportar, pois a crise hídrica afeta diretamente, por exemplo, o setor de commodities, que está vivendo um boom. “Será que esse setor vai abrir mão de consumo de energia voluntária e perder esse boom que a gente está vendo lá fora? E essa demanda que a gente acredita que continuará forte, não só até final deste ano, mas também em 2022, como será atendida?”, questionou.

Outro ponto importante para a economia levantado por Solange Srour é a questão fiscal e a inflação. Segundo ela, o Brasil gastou muito durante a pandemia e, agora, para sair da crise, há uma discussão sobre as regras fiscais e a manutenção do teto de gasto. “Não há como conceder subsídios se a conta energética ficar muito cara, nós continuaremos utilizando essas fontes de energia mais caras. Não há espaço algum para nenhum tipo de política fiscal que contrabalance o peso que isso vai ter para os consumidores. Além disso, a inflação acima da meta é um dilema sobre o futuro, pois afeta diretamente as políticas do governo para sair dessa crise”, avaliou.

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